terça-feira, 15 de julho de 2008

Mediunidade - Algumas breves observações do Profº. J. Herculano Pires

Sessão mediúnica - Doutrinação



"No tocante à mediunidade é necessário o mais rigoroso critério Kardecista, baseado nos livros específicos de Kardec: 'Instruções Práticas sobre manifestações Espíritas' e 'O Livro dos Médiuns'. Essa é a base necessária e insubstituível do estudo e do ensino da mediunidade. Livros como 'No invisível' de Leon Denis, e os livros de orientação mediúnica de Emmanuel e André Luiz podem também ser usados como subsidiários, mas jamais colocados como obras básica s da doutrina. Sem esse critério, muitos Centros e Grupos e até mesmo grandes instituições, caíram num plano de misticismo igrejeiro e de autoritarismo.



Precisamos compreender que lidamos com uma doutrina revolucionária, que deve modificar a rotina espiritual da Terra, abrindo-lhe as perspectivas de uma nova concepção do Espírito.

( A Mesa e o Pão – Livro Mediunidade de Herculano Pires.)



Há alguma regra para a execução do trabalho mediúnico ?



Não há regras específicas e formais para a realização das sessões espíritas. Entre a prece de abertura e a de encerramento desenvolvem-se as manifestações mediúnicas, sob a orientação e muitas vezes a interferência de espíritos dirigentes.



O sistema autoritário, em que o presidente determina aos médiuns receberem as comunicações, uma de cada vez, provém da recomendação do apóstolo Paulo à comunidade de Corinto. Nas reuniões de Kardec, mesmo nas psicográficas, havia ampla liberdade, permitindo as conversações entre espíritos comunicantes, às vezes através de vários médiuns. Léon Denis usava também de liberdade em suas sessões.



Cabe aos espíritos protetores determinar quais os espíritos que devem comunicar-se e quais os médiuns em condições de recebê-los.



O dirigente humano da sessão tem a função de mantê-la equilibrada, orientar o decorrer dos trabalhos e intervir, quando necessário, nas doutrinações e no reajustamento da concentração.

( A Mesa e o Pão – Livro Mediunidade de Herculano Pires.)



Comunicações Simultâneas



Se há muitos médiuns à mesa, há naturalmente a possibilidade de se atender a número maior de espíritos comunicantes através de vários doutrinadores. O que importa na doutrinação não é o muito falar, mas o falar com propriedade e com amor, procurando-se atingir a consciência e o sentimento do espírito.



Uma sessão espírita é um ato de amor. Não é uma cerimônia destinada à finalidade egoísta de nos livrar de espíritos-parasitas, por nós mesmos atraídos e alimentados, mas o objetivo de levar ajuda espiritual aos que padecem. O Espiritismo nos ensina , como ensinou Jesus, que somos todos irmãos e companheiros, criados por Deus para o mesmo destino de transcendência, de elevação espiritual. Esse é o pensamento central da compreensão espírita e precisamos dar-lhe eficácia, traduzi-lo em ação.

(A Mesa e o Pão – Livro Mediunidade de Herculano Pires.)



Críticas a os Trabalhos públicos.



Há que discorde desses trabalhos públicos, alegando as exigências de Kardec na Sociedade Parisience , quando não permitia a presença nas sessões de pessoas que não tivessem algum conhecimento doutrinários.



A maioria absoluta das pessoas que procuram as sessões é necessitada, tratando-se geralmente de médiuns em franco desenvolvimento de suas faculdades. Negar-lhes acesso às sessões seria como negar a um sedento acesso a uma fonte. A mediunidade não se desenvolve por acaso e muito menos sob o poder mágico da vara de Moisés, que tirou água da rocha. Em geral, o desenvolvimento mediúnico começa por diversas perturbações e não raro por processos obsessivos. Não se pode querer que uma pessoa em estado de alteração psíquica á primeiro estudar uma doutrina através de cursos demorados para depois submeter-se aos métodos de cura.

( A Mesa e o Pão – Livro Mediunidade de Herculano Pires.)



Conjugação de vários trabalhos com a Doutrinação



As sessões mediúnicas normais não se restringem à pratica mediúnica.. iniciam-se os trabalhos com leitura e preleção evangélicas, de 'O Evangelho Segundo o Espiritismo' . A seguir, há uma exposição doutrinária que prepara os freqüentadores para os trabalhos práticos. Os médiuns em desenvolvimento recebem a mensagem evangélica e os ensino doutrinários em dosagens apropriadas e , a seguir, participam do trabalho mediúnico. Isso concorre par uma compreensão simultânea da doutrina, de sua natureza cristã, de sua moral evangélica e das sessões . mas é evidente que a preparação das matérias permite reduzira parte oral aos limites necessários. Além desse processo sinérgico ou gestáltico, em que o iniciante adquire desde logo uma visão global da doutrina e da sua prática, o Centro pode manter, quando possível, um curso especial de doutrina em outro dia e horário.



Quando possível, é conveniente entercalar os passes entre a parte evangélica e a doutrinária. Se isso prolongar demais a sessão , pode-se estabelecer uma sessão especial para os passes, sempre iniciada com uma exposição sobre o assunto.



A vantagem de se fazer tudo em seqüência, numa única sessão , é a de se dar ao iniciante, em doses apropriadas e na seqüência natural do tempo, na prática, a compreensão da unidade do problema Espírita. Essa compreensão, infelizmente, falta até mesmo a veteranos do trabalho espírita, em virtude da dispersão e até mesmo da restrição das práticas tradicionais apenas a um aspecto da doutrina.



Tratamos aqui da sessão mediúnica comum, não da sessão específica de desobsessão. Para isso, os Centros bem orientados dispõe de sessões especiais, privativas, com médiuns e doutrinadores capacitados, e, sempre que possível coma participação de médicos espíritas conhecidos por seu desinteresse profissional em casos de ordem doutrinária.



Quando o sistema é bem aplicado, contando com elementos humanos dedicados, os resultados são sempre surpreendentes. Não se trata de uma inovação, mas apenas de uma conjugação de práticas tradicionais que, reunidas e articuladas , produzem mais e melhor.

(A Mesa e o Pão – Livro Mediunidade de Herculano Pires.)



Sessões de Doutrinação (Abertas)



Precedidas sempre de uma prece, realizam-se à meia luz, para facilitar a concentração mental dos participantes. Essas características levam os adversários do Espiritismo a classificá-las como reuniões de magia ou de misticismo inferior. Na verdade são as mais úteis e necessárias, controladas por Espíritos caridosos que promovem a comunicação de entidades sofredoras e perturbadoras. Sua finalidade é esclarecer essas entidades e libertar as sua vítimas das perturbações que lhes causam. Não se evocam espíritos.



As comunicações ficam a cargo do mundo espiritual. Há dois tipos fundamentais: o das sessões livres ou abertas, em que muitos espíritos se comunicam ao mesmo tempo e são doutrinados por vários doutrinadores.



O ambiente parece tumultuado e muitas pessoas sistemáticas condenam esse sistema. É o mais eficiente, produtivo, o mais conveniente numa faz de transição como a nossa, em que os problemas de obsessão se multiplicam. São consideradas de pronto socorro espiritual, em que dezenas de doentes são socorridos ao mesmo tempo. O dirigente controla a ação dos médiuns e os Espíritos agem de duas maneiras, controlando o acesso dos espíritos necessitados e ajudando muitas vezes na doutrinação dos casos mais difíceis.



Há barulho, muita gente falando ao mesmo tempo, mas não há desordem. Os espíritos mais rebeldes são controlados pelos médiuns devidamente instruídos pela assistência espiritual. Não se submetem os médiuns a urso complicados e longos, mas a instruções práticas e objetivas, que são de grande eficiência. O volume de pessoas atendidas é de espíritos beneficiados é grande, mas vai diminuindo na proporção em que o tempo do trabalho se esgota. São encerradas com uma prece de agradecimento, às vezes precedidas de breves explicações sobre os casos mais difíceis, já então num ambiente de absoluta tranqüilidade.

(Livro O Espírito e o Tempo – IV Parte – Pesquisa Científica da Mediunidade – Item 03 - a)



Sessões de Doutrinação (Fechadas)



O outro tipo, de sessões fechadas ou autoritárias, é dirigido pelo presidente os trabalhos, que submete as comunicações ao seu controle absoluto. As comunicações são reduzidas ao mínimo. Os médiuns não se deixam envolver pelas entidades sem que o presidente os autorize. Se ocorre uma comunicação demorada, vários médiuns permanecem inativos, à espera de sua vez. Não têm o sentido dinâmico de atendimento simultâneo num Pronto-socorro. Parece-se mais a consultórios médico em que os clientes têm hora marcada. Não obstante, produzem os seus resultados. Muitas entidades são doutrinadas indiretamente assistindo a doutrinação de outros.

Quando não se dispõe de médiuns e doutrinadores em número suficiente, esse sistema de controle fechado dá mais segurança ao presidente. Mas há a grande desvantagem de se colocar o presidente numa posição que lhe excita a vaidade e o autoritarismo. Os adeptos desse sistema apoiam-se nas instruções do Apóstolo Paulo em sua epístola aos Coríntios. Paulo , de formação judaica, aconselhava o uso controlado dos dons espirituais, cada médium falando por sua vez. Acontece que são bem diferentes as condições do tempo apostólico e as de hoje.

As sessões livres ou abertas atendem melhor às necessidades atuais. Kardec, num país em que o analfabetismo não contava, dedicou maior interesse às sessões de psicografia. Mesmo porque essas sessões correspondiam às exigências de documentação de suas experiências. Em todo o mundo a psicografia ainda se mantém como uma forma mais eficiente de comunicação, pois permite a permanência dos textos para exames e comparações posteriores.

Mesmo entre nós a psicografia tem um papel importante no desenvolvimento da doutrina, como se vê pelas contribuições de vários médiuns e particularmente da obra imensa e altamente significativa de Francisco Cândido Xavier. Mas nos centros e grupos espíritas populares, onde o analfabetismo está presente nos dois lados, com a manifestação de espíritos inferiores na maioria analfabetos, a psicografia se torna quase sempre impraticável.

Essa a razão pela qual a preferência pelas sessões de comunicação oral se impôs.Por outro lado, nas sessões de doutrinação e desobsessão a comunicação oral é mais valiosa, permitindo expressão mais completa do estado emocional e até mesmo patológico do espírito comunicante. Também a identificação do espírito se torna mais fácil, em geral com a evidência da voz, da mímica, dos modismos característicos da criatura que deixou o plano físico e no entanto retorna com todas as modalidades, tiques e trejeitos do seu corpo carnal desaparecido, o que comprova a identidade teórica do corpo somático com o corpo espiritual.

Essa identidade não é constante, pois o espírito evolui no plano espiritual, mas a flexibilidade extrema da estrutura do perispírito permite a este voltar às condições anteriores numa comunicação com pessoas íntimas, seja pela vontade do espírito comunicante ou involuntariamente, pelas simples emoções desencadeadas no ato de aproximação do médium ou no ato de transmissão da comunicação.As pessoas que não conhecem a doutrina e não dispõe de experiência na prática mediúnica sentem-se intrigadas com esses problemas.

Como aconselhava Kardec, é conveniente não participarem de sessões sem terem lido obras esclarecedoras ou pelo menos recebido explicações de pessoa competente. Mas exigir que pessoas obsedadas ou médiuns em franco desenvolvimento tenham de freqüentar cursos de vários anos para poderem freqüentar as sessões de que necessitam, como fazem algumas instituições, é simplesmente um absurdo que raia pela falta de caridade.

(Livro O Espírito e o Tempo – IV Parte – Pesquisa Científica da Mediunidade – Item 03 - a)



Sessões de Desobsessão


Kardec classificou as obsessões em três tipos, segundo o grau de atuação do espírito e submissão da vítima: obsessão simples, fascinação e subjugação.

A obsessão simples pode ser tratada em sessões de doutrinação, sem maiores complicações. O obsedado é geralmente um médium em desenvolvimento, mas não sempre. Em muitos casos, uma vez esclarecido o espírito e o paciente se dedicando ao estudo e prática da doutrina, liberta-se e converte o obsessor em seu amigo e colaborador. É o que Jesus ensinava: “Acerta-te com o teu adversário enquanto estás a caminho com ele”. O obsedado não se transforma em médium, mas em doutrinador ou dedicado auxiliar em campos diversos da atividade doutrinária. Mas a fascinação e a subjugação exigem tratamento mais intenso e restrito a pequeno grupo de trabalho, integrado por médiuns conscientes da responsabilidade e das dificuldades do serviço e dirigido por pessoas competentes e estudiosas.

A cura pode se obtida em poucos dias ou levar meses e até anos, com fases intermitentes de melhora e recaída. Só a insistência no trabalho desobsessivo e a vontade ativa do paciente no sentido de libertar-se podem apresentar os resultados. A dificuldade maior está sempre na falta de vontade do paciente, acostumado a ligação obsessiva, numa situação ambivalente, em que ao mesmo tempo quer libertar-se mas continua apegado ao obsessor, sentindo sua falta quando ele se afasta e invocando-o inconscientemente. Há obsessores que se consideram , com razão ,obsedados pela sua vítima .Idéias, hábitos, tendências alimentadas pelo obsedado constituem elementos de atração para o obsessor. Nesses casos, o trabalho maior da desobsessão é com a própria vítima.

Os dirigentes do trabalho precisam esta atentos, vigilantes quanto ao comportamento do obsedado, ajudando-o constantemente a reagir contra as influências do espírito e contra as suas próprias tendências e hábitos mentais. A mente do obsedado, nesses casos, é o pivô do processo. Ensinar-lhe a controlar e dominar sua mente pela vontade, com apoio no esclarecimento doutrinário, é o que mais importa.

Do domínio da mente decorre naturalmente o domínio das emoções e do sentimentos, que são por assim dizer os elementos de atração do espírito obsessor. Nenhuma atitude exorcista, na tentativa de afastar o obsessor pela força ou através de ameaças dá resultados. A doutrinação é um trabalho paciente de amor. Deve-se compreender que estamos diante de casos de reconciliação de antigos desafetos, carregados de ódio e de cumplicidade-mútua em atividades negativas. Todo e qualquer elemento material que se queira empregar – passes complicados, preces insistentes e demoradas, uso de objetos ou coisas semelhantes – tudo isso só servirá para prolongar o processo obsessivo. O importante é a persuasão amorosa, o esclarecimento constante de obsedado e obsessor. O doutrinador é sempre auxiliado pela ação dos Espíritos sobre obsessor e obsedado.

Todas as prescrições de medidas prévias a serem tomadas pelos membros da equipe de médiuns, como abstenção de carne, repouso antes do trabalho, abstenção de fumo e álcool, comportamento angélico durante o dia e assim por diante, não passam de prescrições secundárias. Os médiuns têm naturalmente o seu comportamento normal regidos por princípios orais e espirituais. Se não o tiverem, de nada valerão esses improvisações de santidade. Se o tiverem, não necessitam desses artifícios. Como Kardec explica, a única autoridade que se pode

Ter sobre os espíritos é a de ordem moral, e o que vale no socorro espiritual não são medidas de última hora, mas a intenção pura de médiuns e doutrinadores, pois que : “ O Espiritismo é uma questão de fundo e não de forma”. As medidas que se devem tomar, quando médiuns e doutrinadores não forem suficientemente, esclarecidos, são apenas as precauções que o bom-senso indica: não exceder-se na alimentação, na bebida, nos falatórios impróprios e maldosos no dia do trabalho.

É necessário afasta os artifícios do religiosismo místico e as pretensões de importância pessoal no ato de doutrinar. Médiuns e doutrinadores são apenas instrumentos – conscientes, é claro – mas instrumentos dos Espíritos benevolentes que deles se servem a hora do trabalho. O mérito individual de cada um está apenas na boa intenção e amor que realmente os anime no serviço fraterno.É natural a tendência mística na prática mediúnica, proveniente do sentimento religioso do homem e dos resíduos do fanatismo religioso do passado, em que fomos cevados no medo ao sobrenatural e no anseio de salvação pessoal através de sacramentos e atitudes piegas. Mas temos de combate e eliminar de nós esses resíduos farisaicos e egoístas, tomando uma atitude racional e consciente nas relações com os espíritos, que ainda ontem em nossos companheiros na existência terrena e que a morte não transformou em santos ou anjos.

O meio espírita está cheio de pregadores de voz untuosa e expressões místicas, tanto encarnados como desencarnados, mas a doutrina não nos indica o caminho do artifício i do fingimento e sim o das atitudes e posições naturais, sinceras e positivas, que não nos levem a cobrir com peles de ovelha nosso pêlo grosso de lobos.



O povo se deixa atrair facilmente pelo maravilhoso, pelos milagres e milagreiros, mas os espíritos, que nos vêem por dentro, não se iludem com as farsas dos santarrões. A criatura humana é o que é e traz em si mesma os germes do seu aperfeiçoamento, não segundo as convenções formais da sociedade ou das instituições de santificação, mas segundo as suas disposições internas. Uma criatura espontânea, natural, aberta, choca-se com os artifícios, as manhas e os dengos de pessoas modeladas pelos figurinos da falsidade. Os espíritos, mais do que nós, sentem logo o cheiro de perfume barato e ardido desses anjinhos de procissão, cujas asas se derretem com os pingos da chuva.

O Espiritismo não veio para nos dar novas escolas de farisaísmo, mas para nos despertar o gosto da autenticidade humana. Sabemos muito bem que nada valem as maneiras suaves, a voz macia e empostada, os gestos de ternura dramática, senão formos por dentro o que mostramos por fora. E é uma ilusão estúpida pensarmos que essa disciplina exterior atinge o nosso íntimo. Nosso esquema interior de evolução não cede aos modismos e às afetações do fingimento.

A moral não é produto do meio social, mas da consciência. Seus princípios fundamentais estão em nosso íntimo e não fora de nós. A moral exógena (exterior) vem de costumes, mas a moral endógena (interior) nasce das exigências da nossa consciência. A idéia de Deus no homem é a fonte dessa moral interna que supera o moralismo superficial da sociedade. Nas sessões de desobsessão o que vale não é o falso moralismo dos homens, mas a moral legítima do homem. Essa busca do natural, do legítimo, do humano, é a constante fundamental do Espiritismo ."

(Livro O Espírito e o Tempo – IV Parte – Pesquisa Científica da Mediunidade – Item 03 – b )