domingo, 16 de dezembro de 2012

Análise Científica da Apometria


À época de Kardec, havia uma preocupação muito grande em fundamentar qualquer associação entre o Espiritismo, os fenômenos mediúnicos e os conhecimentos científicos. Há um livro do Dellane chamado Pesquisas sobre Mediunidade onde ele discute as teorias psicológicas criadas para explicar a fenomenologia mediúnica dando uma interpretação diferente, em alguns casos, do que acontecia na verdade. Há os trabalhos do Hermínio Miranda onde ele se coloca como crítico da Ciência ao analisar como esta considera os postulados espíritas. Há trabalhos do Dennis, do Herculano e de inúmeros outros de grande valor, tanto doutrinário quanto acadêmico.

Infelizmente, o que vemos na atualidade é um movimento muito diverso. Psicografias de cunho "histórico" e "científico" são publicadas com toda a pompa e circunstância, como se verdades absolutas fossem e sem NENHUMA avaliação criteriosa. E se há ao menos NUNCA vi uma divulgação do 'modus operandi' feito com a finalidade de atestar a veracidade de tais psicografias. Vemos livros que falam sobre física quântica, "explicando" (ou apenas mistificando com sua linguagem empolada) os fenômenos mediúnicos e obsessivos, com seus 'saltos quânticos' e mudanças de 'spin' sem nenhum embasamento. São livros de autoria de 'vultos históricos' nacionais e locais sem uma criteriosa avaliação historiográfica, somente a 'confirmação' de algum amigo...

Poucos levam em conta as inúmeras orientação de Kardec para que não enredassem o Espiritismo com teorias e opiniões que viessem a ser contraditas e ridicularizadas pelo vazio do conteúdo, independente do estilo 'à lá pavão'. E é justamente isto o que o trabalho do Alexandre propõe: arrancar as penas do pavão de deixar-lhe nu para que possamos avaliar o conteúdo sem que a imagem de uma pretensa autoridade espiritual possa ter. Analisar o conteúdo pelo conteúdo! E como foi feliz o Alexandre neste estudo breve, mas objetivo. Se a apometria faz algum bem, com certeza não tem nada a ver com as supostas explicações científicas, como os saltos quânticos ou mudanças dos spins das orbitais energéticas, mas, sim, como ressaltou Fonseca, em virtude do merecimento dos atendidos, da presença de médiuns de efeitos físicos, entre as diversas explicações ESPÍRITAS para estes resultados.

Então, compartilho com todos este estudo com a intenção de demonstrar a importância de mais seriedade e estudo na hora de analisarmos, avaliarmos e aceitarmos determinadas opiniões ou teses, de encarnados ou desencarnados com suas pretensas e mirabolantes explicações. Até porque tem muito espírito se gabando de ter acesso a arquivos históricos mais completos que os da Terra, mas que quando analisados de perto, demonstram apenas possuir o mais básico dos conhecimentos alardeados.

Enfim, são trabalhos como estes que demonstram a inconsistência da Apometria quando tenta explicar cientificamente aquilo que nem ela mesma compreendeu. E que fique claro, o que se faz aqui é UMA ANÁLISE NÃO UM ATAQUE a quem simpatiza ou trabalha com a Apometria. Sejamos Espíritas em toda a amplitude do termo, e não apenas aqueles que fingem conhecer e estar convictos de algo que nem compreendem.

Um forte abraço e uma ótima semana para todos!

Abaixo uma mensagem de Kardec que adotamos como bandeira nossa e que compartilhamos com todos e uma ótima leitura:

"Cada um é livre para encarar as coisas à sua maneira, e nós, que reclamamos essa liberdade para nós, não podemos recusá-la aos outros. Mas, do fato de que uma opinião seja livre, não se segue que não se possa discuti-la, examinar-lhe o forte e o fraco, pesar-lhe as vantagens ou os inconvenientes". (Allan Kardec - RE-1866)

Anderson Santiago
analisesespiritas.blogspot.com

Análise Científica da Apometria


Alexandre Fontes da Fonseca
I. Introdução

A Apometria é uma técnica de desdobramento desenvolvida pelo Dr. José Lacerda de Azevedo com o propósito de auxiliar enfermos encarnados ou desencarnados [1,2]. Ela se apresenta como uma teoria de caráter científico que pretende “mostrar um mundo novo” através de premissas “formuladas cientificamente” [1]. Em resumo, na Apometria o médium é levado ao desdobramento para atuar na observação de enfermos encarnados e desencarnados; executar comandos oriundos de um doutrinador; e relatar atividades realizadas na esfera espiritual. A eficácia das técnicas da Apometria se baseia na hipótese de que processos mentais de contagem e comando aglutinariam e condensariam energias do corpo físico e do espaço vazio para realização das tarefas do desdobrado na ajuda a enfermos ou na contenção de Espíritos obsessores.

Em vista de a Apometria ser baseada em conceitos científicos da Física, e se apresentar como uma técnica inovadora e de consequências mais eficazes que o Espiritismo [1], este artigo tem como objetivo apresentar uma análise científica rigorosa da validade do emprego de conceitos da Física e da Matemática na formulação da teoria da Apometria.

Mesmo sabendo que a Apometria é uma técnica não condizente com a orientação espírita (vide, por exemplo, artigos de O Consolador, Refs. [3,4,5]), vários grupos insistem na adoção das práticas da Apometria nos centros espíritas acreditando que ela produz resultados melhores e mais “fortes” do que o Espiritismo, e alegando que, por usar conceitos de teorias modernas da Física, a Apometria seria uma proposta mais avançada do que o Espiritismo.

Da mesma forma como se avaliam os trabalhos científicos na área de Física, analisaremos a validade da utilização dos conceitos da Física na formulação da Apometria. Verificaremos se a teoria da Apometria apresenta ou não contradições entre si ou com os conceitos da Física. Isso será feito da mesma forma como novas teorias são analisadas dentro da área da Física.

O principal critério de análise neste artigo é: existência de inconsistências ou incoerências, isto é, de falhas, conflitos e contradições entre conceitos diferentes da própria teoria ou entre conceitos da teoria e da Física. No caso de uma equação da teoria, analisaremos a consistência lógica entre os resultados possíveis da equação e sua interpretação. 

II. Análise de alguns conceitos e de uma equação da Apometria 

Neste artigo, vamos nos ater à análise de dois conceitos da Apometria que usam conceitos da Física e uma equação matemática usada na definição de uma lei da Apometria. Essa escolha foi feita em função de o nível de complexidade dos conceitos e equação ser baixo e, portanto, mais acessível ao leitor. Um artigo contendo uma análise completa de mais conceitos e equações da Apometria será publicado futuramente na coletânea de trabalhos apresentados no 8º ENLIHPE[1]. Reproduziremos alguns conceitos da Apometria apresentados na obra da Ref. [1] e apresentaremos, em seguida, a análise científica em linguagem o mais acessível possível ao leitor não especialista em Física ou Matemática.  

Conceito 1. Corpo astral imaterial 

Na seção intitulada “8 - Propriedades e funções do corpo astral” do capítulo “III - Corpo Astral” de [1], é dito que “Esta facilidade de separar-se do corpo físico é característica do corpo astral, imaterial e de natureza magnética, não tem constituição fluídica como o duplo etérico ...”. Adiante, na seção intitulada “9 - Alimentos e ‘morte’ do corpo astral” do mesmo capítulo é dito que “Nosso corpo astral perde energia constantemente, necessitando de suprimento energético para sua sustentação, tal qual o corpo físico. Mas a natureza deste alimento varia muito; vai dos caldos proteicos necessários aos Espíritos muito materializados, fornecidos pelas casas de socorro no astral, até as quintessenciadas energias que alimentam os Espíritos superiores, (...)”.  

Análise científica: Acima encontramos erros de inconsistência e contradição, já que se o corpo astral é “imaterial”, e “não tem constituição fluídica”, não pode perder “energia constantemente, necessitando de suprimento energético (...) tal qual o corpo físico”? Em termos filosóficos e científicos, qualquer coisa que seja imaterial não contém nem depende de energia, já que energia é uma propriedade associada a corpos, objetos ou partículas materiais 

Conceito 2. Tempo e Espaço não existem na dimensão mental 

O conceito acima é o título da seção 7 do capítulo “IV – Corpo Mental” de [1].  

Análise científica: O título é um exemplo direto de incoerência e contradição científica e filosófica das teorias apresentadas na Ref. [1]. Isso, pois, se o tempo e o espaço não existem na dimensão mental, então não se pode falar de frequência, vibração e propagação de ondas mentais já que os conceitos de frequência, vibração e propagação dependem dos conceitos de tempo e espaço. Para mais detalhes sobre equações de ondas, o leitor é referido à obra da Ref. [6].  

Equação 1.  Energia do psiquismo – W e Ψ

No capítulo intitulado “”Nohtixon - O pensamento como trabalho do Espírito”, da obra Ref. [1], o Dr. Azevedo apresenta uma análise de como o pensamento poderia agir sobre a matéria e propõe a seguinte lei que rege o pensamento do Espírito: “A energia do pensamento manifestada no campo físico é igual ao produto da energia elétrica neuronal (En) pela energia psíquica (da alma) - Ψ na potência v, quando v tende para o infinito”. Em termos matemáticos, a lei acima pode ser escrita numa das seguintes fórmulas que são equivalentes entre si:
  W = En Ψv→∞       ,        ou         W = En lim v→∞ (Ψv ) ,                 (1)

onde W é a energia total do pensamento, En a energia neuronal (do cérebro), e Ψ a energia psíquica (da alma). Ψv representa o que em Matemática se diz: “Ψ elevado à potência v”.

O primeiro erro dessa lei é de inconsistência teórica, pois consiste em não definir-se a variável Ψ. Toda definição matemática requer algum valor de referência. A teoria da Apometria apenas diz que Ψ é de natureza psíquica. O que significa isso em termos quantitativos, já que Ψ faz parte de uma fórmula matemática? Ψ é igual, maior ou menor que 1? Como diferenciá-lo entre as pessoas ou seres? Que experimentos permitiriam medir Ψ?

O segundo erro é o que chamamos de absurdo matemático e consiste da análise da própria equação (1). Segundo Dr. Azevedo, o que diferencia os seres é o valor do expoente v que valeria 1 (= 1) em seres unicelulares, maior que 1 (v > 1) em seres animais, e v tenderia ao infinito em humanos (v → ∞: esse símbolo significa “tender ao infinito” ou “limite quando v tende ao infinito”) [1]. A Apometria propõe estimar o valor da energia do pensamento de um ser humano através do cálculo do limite da função Ψv quando v tende ao infinito (ou v → ∞). Aqui, para mostrar o absurdo da fórmula da Apometria, analisaremos o resultado da seguinte expressão:
lim v→∞ (Ψv ).                                                           (2)

Explicaremos o cálculo de modo mais simples possível para que o leitor menos acostumado a este tipo de operação matemática compreenda o raciocínio. O cálculo de limites como o que vamos fazer a seguir se aprende nos cursos básicos de Cálculo [7] das carreiras comuns do Ensino Superior das áreas de Engenharias e Ciências Exatas e da Terra.

Para estimar os valores do limite definido na equação (2), identificaremos a grandeza do tipo parâmetro e a grandeza do tipo variável no cálculo do limite. A variável é aquela que irá para o limite infinito: no caso a grandeza v. O parâmetro é o elemento considerado fixo no cálculo do limite: no caso, a grandeza Ψ. A operação de “calcular o limite” é aplicada a uma função que no caso, segundo a equação (1) ou (2), é ΨvCalcular o limite de v tender ao infinito de Ψv nada mais é do que analisar para que valor numérico a operação Ψv (lembrando: “Ψ elevado à potência v”) se aproxima, quando a variável do limite, no caso v, adquire valores extremamente altos, tendendo ao infinito [7].

Para realizar as estimativas de cálculo do limite da equação (2), precisaremos testar todas as possibilidades para o valor do parâmetro Ψ. As possibilidades são: Ψ = 1 (possibilidade 1);      -1 < Ψ < 1 (possibilidade 2); Ψ > 1 (possibilidade 3); e Ψ ≤ -1 (possibilidade 4).

- Se Ψ = 1, sabemos que 1 elevado a qualquer valor de potência é igual a 1 [7]. Portanto, o limite da equação (2) quando v tende ao infinito, com a possibilidade 1, é 1 (um).

- Se -1 < Ψ < 1, então observamos que Ψ tem valor absoluto menor que 1 e sabemos da Matemática que um número de valor absoluto menor que 1 elevado a um expoente de valor elevado, é um número tão menor quanto maior for o expoente [7]. Assim, o limite da equação (2) quando v tende ao infinito, com a possibilidade 2, é 0 (zero).

- Se Ψ > 1, ou se “Ψ tem valor maior que 1”, sabemos da Matemática que um número de valor maior que 1 elevado a um expoente de valor elevado é um número também elevado [7]. Assim, o limite da equação (2) quando v tende ao infinito, com a possibilidade 3 é infinito, isto é, tende ao infinito na medida em que o expoente v tende ao infinito.

- Se Ψ ≤ -1, isso significa que Ψ tem valor negativo. Sabemos da Matemática que o limite de um número negativo de valor absoluto maior ou igual a 1 (um) elevado a um expoente que tende ao infinito, é um resultado indeterminado, pois, dependendo do valor par ou ímpar do expoente, o resultado é positivo ou negativo [7]. Por isso o limite da equação (2) quando v tende ao infinito, com a possibilidade 4 éindeterminado.
Em resumo, obtemos as seguintes soluções para o limite definido pela equação (2):
lim v→∞ (Ψv ) = 1                       se      Ψ = 1 ,                           (3a)
lim v→∞ (Ψv ) = 0                       se      -1 < Ψ < 1 ,          (3b)
lim v→∞ (Ψv ) = +                             se      Ψ > 1 ,                           (3c)
lim v→∞ (Ψv ) = Indeterminado   se      Ψ ≤ -1 .                (3d)

A interpretação dos resultados acima é a seguinte:

- Se a equação (3a) for o resultado válido, então a energia da alma não tem utilidade, pois que, na composição da energia do pensamento, o termo associado à energia material, En, é multiplicado diretamente por lim v→∞ (Ψv) que é igual a 1, e multiplicar En pela unidade (por um) não altera o resultado e a energia do pensamento é apenas a energia da parte material.

- Se a equação (3b) for o resultado válido, então a energia total do pensamento é zero, pois multiplicar En por zero é igual a zero. Esse resultado não serve para nada e é contraditório, pois, segundo a teoria da Apometria, a energia mental de uma ameba (para a qual v tem um valor finito) seria maior do que a de um ser humano.

- Se a equação (3c) for o resultado válido, então a energia do pensamento é infinita, pois, multiplicar En por infinito é infinito. Esse resultado não serve para nada, pois, em Ciências Exatas, não se trabalha com valores infinitos que não podem ser medidos, calculados ou comparados.

- Se a equação (3d) for o resultado válido, então a energia do pensamento é algo indeterminado, pois multiplicar En por um número indeterminado dá um resultado indeterminado. Portanto, essa possibilidade também não tem utilidade alguma.
Da análise acima concluímos, por absurdo, pela não-validade da equação (1) e do enunciado da lei que rege o pensamento segundo a Apometria.  

III. Conclusões 

A análise acima permite concluir que a teoria da Apometria foi construída sem nenhum respaldo da Física ou da Matemática, não podendo, portanto, ser considerada científica. Ela apresenta erros do tipo incoerênciainconsistência, e contradição entre seus conceitos e equações. A Apometria, portanto, não representa um avanço científico e, pelo contrário, demonstra desconhecimento a respeito dos conceitos da Ciência.

É importante esclarecer que essa análise não teve a intenção de desrespeitar os praticantes e simpatizantes da Apometria. Uma vez que temos a orientação de Jesus de que devemos buscar a verdade, pois ela nos libertará (João 8:32), e de que devemos dizer “sim, sim, não, não” (Mateus 5:37), nosso objetivo é esclarecer e alertar espíritas e não-espíritas sobre as bases falsas da teoria Apometria. Se a prática da Apometria produz resultados, estes se devem a fatores diferentes do que a teoria ensina. As curas e outros auxílios que eventualmente ocorrem em nome da Apometria são decorrentes de fatores como: merecimento dos envolvidos, presença de médiuns de efeitos físicos, concentração e fé das pessoas, e outros fatores que o Espiritismo ensina. As orientações para que sejam usados objetos ou práticas como contagens ou outras técnicas que foram propostas com base em conceitos da Física são completamente equivocadas e sem fundamentos. Conforme estudo anterior [8], o Espiritismo é a teoria mais moderna e segura que temos na atualidade para tratar e orientar a prática mediúnica.  

Referências:  

[1] José Lacerda de Azevedo, Espírito / Matéria – Novos Horizontes Para A Medicina, 7ª edição, VEC Gráfica e Editora Ltda., Porto Alegre (2002).
[2] José Lacerda de Azevedo, Energia e Espírito, 2ª edição, Comunicação Impressa, Porto Alegre (1995).
[3] Jorge Hessen, “A apometria e as práticas espíritas”, O Consolador 67 (3 de Agosto de 2008), link:http://www.oconsolador.com.br/ano2/67/especial.html
[4] Astolfo O. de Oliveira Filho, “Apometria não é Espiritismo”, O Consolador 130 (25 de Outubro de 2009), link:http://www.oconsolador.com.br/ano3/130/especial.html
[5] Gebaldo José de Sousa, “Apometria não convém às Casas Espíritas”, O Consolador 139 (3 de Janeiro de 2010), link:http://www.oconsolador.com.br/ano3/139/gebaldo_sousa.html
[6] D. Halliday, R. Resnick e J. Walker, Fundamentos da Física – Volume 2 – Gravitação, Ondas e Termodinâmica, Editora LTC, 8a. Edição (2009).
[7] H. L. Guidorizzi, Um Curso de Cálculo – Vol. 1, Editora Livros Técnicos e Científicos Editora LTDA., 2a. Edição (1987).  
[8] A. F. da Fonseca, “Estaria o Espiritismo ultrapassado?... Ou muito na frente?”, O Consolador 271 (27 de Julho de 2012), link:http://www.oconsolador.com.br/ano6/271/especial.html.


[1] 8º Encontro Nacional da Liga de Pesquisadores em Espiritismo, ocorrido nos dias 18 e 19 de Agosto de 2012, na sede do Centro de Cultura, Documentação e Pesquisa do Espiritismo, Eduardo Carvalho Monteiro, CCDPE-ECM, em São Paulo. A apresentação do trabalho pode ser assistida em: http://www.youtube.com/watch?v=-3nsVYTPFyU.

Alexandre Fontes da Fonseca é professor de Física na Universidade Estadual Paulista "Júlio de Mesquita Filho", em Bauru-SP.
Fonte: http://www.oconsolador.com.br/ano6/289/especial.html

sábado, 13 de outubro de 2012

ANALISANDO O TEXTO “É IMPRESSIONANTE!!!”


“Cada um (dos Espíritos) diz o que pensa e o que falam quase sempre é opinião pessoal; eis por que não é para acreditar cegamente em tudo o que dizem os Espíritos” – Kardec [2]

            Já comentamos, em outras oportunidades, sobre o cuidado que devemos ter ao realizarmos a leitura de comunicações mediúnicas. Se com textos de autores encarnados, espíritas ou não, o nosso senso crítico deve estar sempre ativo, com as comunicações do além este cuidado deve ser redobrado. E não será a primeira vez que o texto do Espírito Inácio Ferreira será analisado.
            Seu primeiro texto analisado foi “A Obra de André Luiz e a Física Quântica” onde ele se equivoca ao afirmar que André Luiz teria antecipado as conquistas atuais da física, notadamente da física quântica. O texto-resposta foi escrito em parceria com Alexandre Fontes da Fonseca. No segundo texto, “Emmanuelismo”, Inácio assume a incumbência de defender o Emmanuel de ataques que ele considera “pessoais”. Depois tenta vender a ideia de que o Emmanuel, Espírito-guia do Chico, seria o mesmo que possui uma mensagem publicada em O Evangelho segundo o Espiritismo. O texto foi amplamente analisado e vale a leitura.
            E muitos outros textos ainda poderiam ser analisados. Entretanto, escolhemos este [1], por, mais uma vez, comprovar o acerto de Kardec ao nos aconselhar a termos muita prudência com toda e qualquer informação que venha quer do mundo espiritual. Eles falam o que pensam e nós não precisamos assinar embaixo em tudo o que vem deles. Neste texto, à semelhança daquele sobre Emmanuel ele pretende sair em defesa de Chico Xavier denunciando os desmandos doutrinários cometidos – ele também chega a afirmar serem desonestidades – contra o médium mineiro.
            Primeiro o Inácio o defende contra as opiniões de que ele teria errado “ao dizer isto, ao escrever aquilo, tornando pública uma situação de lesa-Doutrina”, pelo fato de ter tido, o Chico, uma vida irretocável em todos os aspectos. Creio não precisar afirmar que este tipo de opinião é completamente ingênua, pelo simples fato de que uma análise fria da biografia do Chico nos demonstrará os inúmeros momentos em que ele errou e precisou retificar o seu erro.
            Chico não foi um santo, foi um homem e como homem estava sujeito a erros! Este é um ponto que não canso de reafirmar, quando posso, devido às absurdas tentativas de santificação do Chico. Já não bastassem as romarias ao cemitério onde o seu corpo foi sepultado e ao museu que foi criado na casa onde ele viveu? Agora tudo o que ele escreveu ou psicografou deve ser considerado intocável? Isso sim é impressionante, pois nos leva a perguntar se somos espíritas mesmo. Posso afirmar sem medo que a falta de um aprofundamento doutrinário durante boa parte de sua vida foi o que permitiu que ele psicografasse e publicasse algumas [poucas] obras de conteúdo duvidoso. Para bom entendedor o Inácio realmente exagera ao transformar um pingo em uma letra distorcida. E o absurdo maior é insinuar que ele tem olhos e que a “terra” do lado de lá irá comê-los (no mundo espiritual existe Terra? E a questão dos inexistentes órgãos físicos no perispírito não já deveria estar superada por não ter sustentação ante os informes dos Espíritos da Codificação em todas as obras publicadas por Kardec? Além do mais, supõe o Espírito – ou ele quer reformular o Espiritismo? – que o perispírito é perecível? Ver o item 254 e 257 de O Livro dos Espíritos [3]).
             Cometendo tantos equívocos [que duvido serem mesmo equívocos] como tentar sustentar que são os outros que querem induzir algo nas pessoas? Não posso dizer que o Chico copiava, ou plagiava, pois, conscientemente, não vejo motivos para isto. Aliás, discordo deste expediente. Entretanto, não posso concordar com este espírito ao levantar novamente o problema da suposta revelação andreluizina de mais de 40 anos atrás. Isso sim é sutileza maquiavélica! Será que ele não exagerou mesmo? Vale muito a pena verificar o que J. Herculano Pires tem a dizer sobre as obras de André Luiz e seu lugar diante da revelação espírita:

A obra de André Luiz é ilustrativa da revelação espírita e não propriamente complementar, no sentido de superação que o articulista propõe. É uma grande e bela contribuição nos estudos espíritas, mas sua pedra de toque é a codificação” [4].

            Depois, elenca três observações contestáveis desde a primeira vez que foram publicadas. A primeira afirmação temerária é a de que Chico teria sido a reencarnação de Kardec. Não sei o por que desta insistência neste ponto, já que quando vamos realizar uma análise da biografia de ambos, buscando suas semelhanças e, se assim podemos chamar, ‘projetos reencarnatórios’, não encontramos pontos de contato, a não ser seu envolvimento com o movimento espiritista. Para muitos o “argumento” mais forte seria a previsão feita por Kardec e os Espíritos de que sua nova reencarnação se daria provavelmente no início do século XX. Entretanto, bem sabemos que isto não serve de confirmação pra nada. Sabe, para quem tem muitas dúvidas sobre este assunto, aconselho a estudar os livros de Hermínio Miranda, contidos na série “Mecanismos Secretos da História”, onde ele faz uma análise profunda, detalhada e criteriosa com a finalidade de demonstrar que as semelhanças de destino e a identidade de personalidade entre figuras como Hipácia, Giordano Bruno e Annie Besant, por exemplo, são encarnações de um mesmo espírito. Mas, Miranda não faz considerações apressadas, superficiais e nem baseadas em apenas uma “previsão” como a contida em Obras Póstumas.          
            Quem tiver dúvidas, pode pesquisar dois livros em específico: Guerrilheiros da Intolerância e As Várias Vidas de Fénelon. Perceberão os leitores, a dificuldade que envolve tal trabalho, mas, acima de tudo, terão a oportunidade de compreender porque Chico não é a reencarnação de Kardec. E aceitarão que afirmações como estas do Espírito Inácio são irresponsáveis, por querer se fundamentar em certa vantagem que teria o Espírito só por estar morto e ter “acesso aos arquivos espirituais” que contariam a estória verdadeira. Observemos bem que ele pede apenas para crermos no que ele diz, sem provar que o que diz está certo fundamentado em uma pseudoautoridade que poderia ter só por estar morto e do outro lado da vida...
            A sua segunda observação insere-se no contexto da primeira no que podemos chamar de afirmação temerária e sem fundamento. E lembrando a opinião de Herculano Pires, conquanto seja interessantíssima e muito importante para os estudos espíritas, a obra de André Luiz, não se configura como ensino universitário diante do Jardim da Infância que seriam as obras de Swendenborg, Dale Owen [chamado por Ferreira de Vale] e Stainton Moses, e, porque não, da própria Codificação. Pois é isto o que este espírito quer dizer, insinuando-se desta forma. E o dirá claramente ao final do seu texto. Mas, repetimos que a obra de André Luiz por mais importante que seja só tem valor real quando tocada pela pedra de toque da Codificação. E não o contrário. Até porque muitas informações dadas por André Luiz não condizem com os princípios espíritas, se não forem alvo de uma análise acurada. Exemplo: sabendo que não podemos compreender as necessidades dos Espíritos baseando-nos nas nossas, pelo simples fato de não terem os Espíritos órgãos físicos e sentidos sensoriais como os nossos, como poderiam eles dormir e comer no mundo espiritual? Qualquer dúvida é só olhar aqueles dois itens de O Livro dos Espíritos para início de conversa. Só isto evidencia que não podemos ser levianos e apressados na leitura e divulgação de qualquer informação mediúnica.
            A terceira observação se insere neste movimento reflexivo que estamos fazendo. Para o Inácio, no fim, querem apenas reduzir Chico a um mediunzinho qualquer. Eu discordo. Excetuando-se aqueles que só conseguem denegrir, os demais, em sua imensa maioria, querem apenas que Chico seja o que foi, nem mais, nem menos. Alguns médiuns, palestrantes, adeptos do Espiritismo e Espíritos desencarnados é que querem pôr lenha na fogueira e transformar o Chico em um santo!! Ignoram que Kardec nunca pôs um médium sequer em evidência, pois, na opinião de Kardec

“Os nomes dos médiuns não acrescentariam, aliás, nenhum valor à obra dos Espíritos. Sua citação seria apenas uma satisfação do amor-próprio, pelo qual os médiuns verdadeiramente sérios não se interessam. Eles compreendem que, sendo puramente passivo seu papel, o valor das comunicações não aumenta em nada o seu mérito pessoal, e que seria pueril envaidecerem-se de um trabalho intelectual a que prestam apenas o seu concurso mecânico” [5].

            É exatamente isto o que fazem os médiuns hoje em dia? Ocultam-se e deixam a obra dos Espíritos falarem por si mesmas? Ou vangloriam-se eles e autografam livros que NÃO FORAM obra de sua inteligência nem do seu esforço como se seus fossem? Quantos não buscam apenas isto: a satisfação do seu amor-próprio e não a defesa da causa espírita? Seria isto que Inácio queria fazer com o Chico ao não querer reduzi-lo a um mediunzinho qualquer? E a opinião de Kardec neste ponto deve ser considerada ultrapassada também?
            Entretanto, a sua ousadia não para por aí. Valendo-se apenas de sua “autoridade de espírito desencarnado e cheio de vícios” ele afirma que “Não fosse a Obra Mediúnica de Chico Xavier, com toda a nossa reverência a Kardec, a sua seria uma obra de mais de 150 anos atrás!” Ou seja, Kardec está ultrapassado e as obras psicografadas por Chico são a sua atualização excepcional... Será que preciso mesmo refutar opinião tão bem fundamentada e criteriosa? Será que o Inácio simplesmente esqueceu que a obra não é de Chico, mas dos Espíritos? E que qualquer erro contido nelas não pode ser atribuído ao Chico e sim a eles, os Espíritos? Aqui vale citar a opinião de Alexandre F. Fonseca sobre a obra psicografada por Chico de autoria dos Espíritos:

“A obra mediúnica de Chico Xavier, mesmo diante de todo o seu valor moral, literário e até científico, apenas possui o caráter da revelação divina ou religiosa, pois o seu conteúdo não foi fruto da observação, investigação e pesquisa de nenhum encarnado. Chico foi o intermediário dos bons Espíritos para aprofundamento das verdades espirituais, todas elas de acordo com o Espiritismo e embasadas no mesmo. Isoladamente, as obras do Chico jamais constituiriam uma doutrina com o mesmo valor e caráter que o Espiritismo possui, simplesmente por não satisfazer o caráter científico de uma revelação” [6].

            Por tudo o que já escrevemos nos artigos anteriores, só podemos lamentar que opiniões equivocadas e maquiavélicas como estas estejam sendo publicadas. Chamo de maquiavélicas porque não pecam pela ingenuidade, mas, pela perversidade em querer impor uma opinião sem fundamentos nem argumentos lógicos e coerentes, apenas uma suposta pseudoautoridade que teria este Espírito só por ser Espírito... Dê ele os pinotes que quiser, essa é que é a pura verdade!
            Por fim, respeitar a memória do Chico é também não transformá-lo naquilo em que ele nunca cogitou. Seria uma honra ele ser a reencarnação de Kardec, entretanto, ele não é. E isto não o diminui como ser humano nem como médium. E não sou eu, apenas, que penso assim. Richard Simonetti, J. Raul Teixeira e Dora Incontri, para citar três personalidades que já analisaram e opinaram sobre o tema. Chico não precisa [e nem pode] ser Kardec para que o respeitemos, admiremos e respeitemos. Nem Kardec dá pra ter reencarnado como Chico, pois a única semelhança aceitável entre ambos seria a participação no movimento espírita, e só. Querer mais é ignorar os princípios espíritas e agir mais por idolatria [ao Chico] do que racionalmente [como Kardec]. E mais uma vez, muito cuidado com o que lê na internet, caro leitor, principalmente se foi psicografado [ou psicodigitado] por algum espírito.

Referências:

[1] O texto “É Impressionante!!!” pode ser lido clicando neste link: http://inacioferreira-baccelli.zip.net/arch2012-08-01_2012-08-31.html, em postagem do dia 20 de agosto.
[2] A citação de abertura do texto pode ser lida aqui: PIRES, J. Herculano. Introdução ao Espiritismo. 1ª Ed. SP – Ed. Paidéia, 2009, p. 145.
[3] A questão [e as dúvidas] sobre a materialidade do perispírito e da existência de órgãos materiais nele já deveria estar superada. Kardec foi explícito o suficiente sobre o tema e as questões 254 e 257 de O Livro dos Espíritos não esgotam o tema. Vale uma pesquisa por toda a codificação, especialmente nas Revistas Espíritas para uma mais profunda compreensão do tema.
[4] RIZZINI, Jorge. J. Herculano Pires – O Apóstolo de Kardec. 1ª Ed. SP – Ed. Paidéia, 2001, p. 245.
[5] KARDEC, Allan. O Evangelho segundo o Espiritismo. 63ª Ed. SP, LAKE, 2007, p. 15.

·         Nota: Seguem os links com as opiniões de Raul Teixeira e Dora Incontri sobre a questão do Chico não ser Kardec para que o leitor possa ler na íntegra as suas opiniões.

sábado, 25 de agosto de 2012

Hoje, 2º dia do VII SIMESPE

Prezados,

Está acontecendo hoje o segundo dia do SIMESPE, em sua 7ª edição.

Me reservo comentar a excelência deste evento, pois cada um poderá conferir pessoalmente ao ir e participar. Quem ainda não foi, não perca a oportunidade. Os ingressos para o salão principal esgotaram-se rapidamente, entretanto, ainda sobraram alguns do salão adicional reservado para a transmissão simultânea.

Que Deus abençoe toda a comissão organizadora e todos aqueles que reservaram um espaço em sua agenda para crescerem um pouco mais espiritualmente.

Que os bons Espíritos possam estar presentes estimulando não só a reflexão de ordem moral, mas a possibilidade de ampliar nossos horizontess doutrinários e nosso senso crítico.

Até a próxima.

Anderson



domingo, 29 de julho de 2012

Reflexões acerca da publicação de comunicações mediúnicas



Kardec relata em Obras Póstumas que um dos primeiros resultados das suas observações foi perceber que os Espíritos não possuíam nem a soberana sabedoria, nem a soberana ciência, como rezava a cultura popular. Eles não eram nada mais que as almas dos homens que aqui viveram. É por isto que afirma que “esta verdade, reconhecida desde o princípio, preservou-me do perigo de acreditar na infalibilidade deles e livrou-me de formular teorias prematuras sobre os ditados de um ou de alguns” [1].
            Foi esta a postura adotada pelo codificador durante todos os quinze anos em que esteve envolvido com os assuntos espíritas. Uma postura sensata, madura e que merece ser copiada nos dias de hoje. E em quantos centros espíritas podemos observar tal postura sendo repetida hoje? Muito poucos! Em tempos de vacas gordas, como os atuais, onde as obras espíritas (e até as que se fazem passar por espíritas...) ganham espaço na mídia e no mercado editorial, quantos editores vão perder tempo em analisar criteriosamente uma obra, seja um romance, seja uma obra de conteúdo doutrinário de forma tão minuciosa que possa descobrir se o ponto no i está correto? Mais uma vez, poucos, muito poucos. A maioria não liga para estes critérios, pois o tipo do papel utilizado na impressão, a arte que será impressa na capa, o autor “de prestígio” que assinará o prefácio [normalmente um médium, já que um mero encarnado que se dispõe a estudar e comentar o Espiritismo normalmente não é tão respeitado como o ‘mensageiro dos espíritos’] e a possibilidade do livro alcançar vultosas tiragens é o mais importante. Não importa se o conteúdo do livro for absurdamente duvidoso, a polêmica também traz lucros, pensam eles. E nisto, a qualidade também se vai.
            Contudo, quando existe um trabalho criterioso, muitos equívocos podem ser evitados e muitas informações erradas deixam de ser publicadas. E olhe que não são poucas as obras que poderiam ser atribuídas a Espíritos pseudossábios. E isto é até interessante de se ver. Existem obras que todo mundo sabe que conflitam com os princípios mais básicos do Espiritismo, entretanto, elas são publicadas sem uma referência sequer, nem uma nota corrigindo tal ou qual opinião. E é justamente isto o que Kardec comenta quando afirma que

“[...] Não haveria nenhum inconveniente em publicar essas espécies de comunicações, se as fizessem acompanhar de comentários, seja para refutar os erros, seja para lembrar que são a expressão de uma opinião individual, da qual não se assume a responsabilidade; poderiam mesmo ter um lado instrutivo, mostrando a que aberrações de ideias podem entregar-se certos Espíritos. Mas, publicá-las pura e simplesmente é apresentá-las como expressão da verdade e garantir a autenticidade das assinaturas, que o bom senso não pode admitir; eis o inconveniente” [2].
            Mas, quem ousa hoje corrigir os luminares que psicografam teorias muito além da nossa compreensão? Quem ousa criticar (no verdadeiro sentido etimológico da palavra que é ‘avaliar qualitativamente algo ou alguém’) estas obras corre o grande risco de morrer no ostracismo, na ignorância, no esquecimento. Felizmente ainda existem aqueles que não desejam apenas divulgar o Espiritismo e vivê-lo em seu aspecto moral (mesmo que superficialmente), mas, acima de tudo, existem aqueles que querem pensá-lo. Que desejam continuar raciocinando. É a estes que devemos obras como A Pedra e o Joio, Pesquisa sobre a Mediunidade e Diversidade dos Carismas.
            Até porque, é o próprio Codificador que nos incita a denunciar sem hesitação as obras suspeitas, pelo bem da doutrina. E isto pelo simples fato de que se os espíritos possuem, além do livre-arbítrio, opiniões sobre os homens e as coisas deste e do outro mundo, compreende-se que existam textos que devam ser evitados não só por conveniência, mas por prudência pura e simples. Esta questão leva Kardec a afirmar que no interesse da Doutrina convém fazer uma seleção muito severa, eliminando tudo quanto possa produzir uma má impressão.
            Por outro lado, existem algumas obras que mesmo sendo instrutivas, relatam situações e ambientes do mundo espiritual de forma analógica, comparativa e que se não forem devidamente analisadas e comentadas podem ser tomadas como realidade. É isto o que leva José Herculano Pires a afirmar que as “obras mediúnicas, psicografadas, que descrevem com excesso de minúcias a vida no plano espiritual devem ser encaradas com reserva pelos espíritas estudiosos” [3].  Entretanto, além destas precauções, outras devem ser observadas, principalmente aquela que diz respeito à participação dos médiuns na escolha das comunicações ou mesmo na publicação das mesmas.

“Enquanto o médium imperfeito se orgulha dos nomes ilustres, o mais frequentemente apócrifos, que levam as comunicações que ele recebe, e se considera intérprete privilegiado das forças celestes, o bom médium não se crê jamais bastante digno de tal valor, tendo sempre uma salutar desconfiança da qualidade daquilo que recebe não se confiando ao seu próprio julgamento; não sendo senão um instrumento passivo, ele compreende que, se é bom, não pode disso fazer um mérito pessoal, não mais do que pode ser responsável se é mau, e que seria ridículo acreditar na identidade absoluta dos Espíritos que se manifestam por ele; deixa a questão ser julgada por terceiros desinteressados, sem que o seu amor-próprio tenha mais a sofrer com um julgamento desfavorável do que o ator que não é passível da censura infligida à peça da qual é intérprete. Seu caráter distintivo é a simplicidade e a modéstia; é feliz com a faculdade que possui, não para dela se envaidecer, mas porque lhe oferece um meio de ser útil, o que faz voluntariamente quando lhe surge a ocasião, sem jamais melindrar-se se não é colocado em primeiro plano”. [4]
Estas reflexões me remetem, inevitavelmente, à assustadora quantidade de médiuns donos de editoras, que fundam centros e gráficas para publicar seus livros quando eles não são aceitos com bons olhos pelos seus companheiros de ideal.  Mas não só a eles. Quantos aqui guardariam por mais de vinte anos uma psicografia, e os insistentes convites dos Espíritos autores (do tamanho de um livro) por não achar que ela deveria ser publicada naquele momento? Muitos médiuns mal terminam de psicografar e já procuram alguém de nome para prefaciar a obra que nem finalizada está, como comentou certa vez o médium Divaldo Franco. Infelizmente são poucos os que assumem uma postura idêntica a da Yvonne Pereira no famoso caso do Espírito Beletrista (Ver a obra Devassando o Invisível para maiores informações).
E é por isto que hoje vemos tanta gente que apenas admira o Espiritismo, tantas cabeças ‘pensantes’ que se acostumaram a viver apenas como as lagartixas, balançando a cabeça pra tudo o que os Espíritos dizem atestando a sua ignorância em tudo o que diz respeito ao Espiritismo. E ai de quem ousar dizer que ele está fascinado! Conheço o caso de uma senhora que jura ser a encarnação de vários espíritos famosos pela psicografia de um médium também famoso, já desencarnado, mas que demonstra claros sinais de uma assustadora fascinação. Imagina se ela psicografasse livros?
Não é à toa que Kardec se preocupava com relação à publicação de comunicações mediúnicas, de uma forma geral. Não por acaso, também, que insistimos em repisar as advertências feitas por Herculano Pires sobre a importância de uma séria e sólida formação doutrinária para as futuras gerações espíritas. E para finalizar estas reflexões, como disse certa vez o Codificador:

“Em matéria de publicidade, portanto, toda circunspeção é pouca e não se calcularia com bastante cuidado o efeito que talvez produzisse sobre o leitor. Em resumo, é um grave erro crer-se obrigado a publicar tudo quanto ditam os Espíritos, porque, se os há bons e esclarecidos, também os há maus e ignorantes. Importa fazer uma escolha muito rigorosa de suas comunicações e suprimir tudo quanto for inútil, insignificante, falso ou susceptível de produzir má impressão. É preciso semear, sem dúvida, mas semear a boa semente e em tempo oportuno”. [5]
Referências:
[1] KARDEC, Allan. Obras Póstumas. 14ª Ed. SP, LAKE, 2007, p. 217.
[2] _______. Viagem Espírita em 1862. 1ª Ed. RJ, FEB, 2005, p. 123.
[3] PIRES, J. Herculano. Mediunidade.
[4] _______. O que é o Espiritismo. IDE, item 87, pag. 114
[5] KARDEC, Allan. Viagem Espírita em 1862. 1ª Ed. RJ, FEB, 2005, p.

segunda-feira, 23 de julho de 2012

De Sonda nas Mãos e Consultando os Ventos


    Kardec sempre se preocupou com a necessidade de expressar os conceitos espíritas com termos que não causassem confusão nem fossem considerados ambíguos. Da mesma forma, ele sabia por experiência própria que o Espiritismo teria “principalmente, no começo, de lutar contra ideias pessoais, sempre intransigentes, tenazes, difíceis de se harmonizar com as ideias de outrem e contra a ambição dos que querem ligar, a todo o custo, o seu nome a uma inovação qualquer, que inventam novidades só para poderem dizer que não pensam e não fazem como os outros, ou porque o seu amor próprio se revolta por terem de ocupar um lugar secundário”[1].
         Desta citação, ouso cortar somente a expressão “no começo”, pois se esta luta existia ao tempo de Kardec, hoje ela parece estar ainda mais gritante. De um lado observamos médiuns estrelas, considerados verdadeiros oráculos de sabedoria e editoras conduzidas por médiuns psicógrafos, algumas criadas com o honesto e verdadeiro sentimento de contribuir com a mensagem espírita, já outras nascidas apenas do orgulho ferido do seu fundador por não terem as “suas obras” [DOS ESPÍRITOS, ressalve-se] o reconhecimento que deveriam; Por outro lado, vemos trabalhadores dedicados ao estudo da doutrina serem ignorados, escanteados mesmo, seja por não produzirem novidades a todo o momento, seja pelo fato de não concordarem com estas supostas novidades surgidas, normalmente, de uma interpretação apressada e equivocada dos ensinos espíritas.
         Normalmente, são por estes motivos que as tentativas de adulteração doutrinária acontecem. Adulterar significa deturpar, deformar, falsificar algo. Dentro do movimento espírita está associado às tentativas de modificar os conceitos espíritas sem uma fundamentação séria, consistente e coerente seja científica seja filosófica. Normalmente as tentativas são equivocadas e fruto de puro desconhecimento dos mais básicos princípios do Espiritismo. De outras, são fruto de mentes desencarnadas ardilosas, especialistas em misturar o joio ao trigo, que articulam seus planos no mundo espiritual e que as publicam no meio espírita através de médiuns invigilantes, ingênuos e que só caem em suas armadilhas porque são imprudentes.
         De acordo com José Herculano Pires, “qualquer obra que pretenda superar Kardec ou subestimar a Doutrina Espírita precisa ser submetida à prova de toque. E essa prova só pode ser feita de duas maneiras: de um lado conferindo-se a pretensa superação com a obra de Kardec para verificar-se qual das duas está mais coerente e apresenta maior coesão, maior unidade e firmeza nos seus princípios; de outro lado, conferindo-se, como recomenda o próprio Kardec, os princípios da pretensa superação com as exigências do pensamento atual em todos os campos da nossa atividade mental” [2].
         Kardec sempre esteve atento a este fato. Tanto que afirmou ser indispensável para a unidade futura do movimento espírita que todas as partes da Doutrina fossem determinadas com clareza e precisão, sem que nenhuma ficasse mal definida. “Neste sentido temos feito todo o esforço para que os nossos escritos não se prestem a interpretações contraditórias e esforçar-nos-emos por manter esta regra” [1]. Sobre este assunto, o codificador elencou três pontos que considerou de importância capital para a unidade futura do Espiritismo:
1)     O primeiro ponto é utilizar-se sempre de uma linguagem objetiva, clara e precisa como “dois mais dois é igual a quatro”. Desta forma, ninguém ousará dizer que é cinco. “Poder-se-ão formar, fora da Doutrina, seitas que não adotem alguns ou todos os princípios; não no seio dela, por interpretação do texto, como se tem formado, tão numerosa, sobre o sentido das palavras do evangelho” [1]. Sobre este ponto indico para leitura o texto “A importância da nomenclatura para a unidade futura do Espiritismo” como forma de complemento e melhor compreensão das ideias aqui inseridas.
2)     O segundo tem a ver com a importância de não sairmos do círculo das ideias práticas. Ou seja, “se é certo que a utopia de hoje se torna muitas vezes a verdade de amanhã, deixemos que o futuro realize a utopia de hoje, mas não enredemos a doutrina com princípios que possam ser considerados quimeras e a tornem rejeitada pelos homens positivos” [1]. Este ponto é perfeitamente aplicável às inúmeras novidades que se publicam hoje na vasta literatura espírita: seja o perispírito com órgãos de tipo físico, sejam os vários corpos que teria o perispírito, seja uma técnica que se propõe a resolver todos os problemas obsessivos considerados ‘complexos’ ou a existência de crianças com nomes de pedras preciosas, todos estes assuntos deveriam ser estudados com muito mais prudência e cautela pelos espíritas, principalmente antes de serem divulgados. Utopias são consideradas verdade sem um mínimo de pesquisa, estudo e reflexão. Normalmente, basta que um livro seja publicado ou um médium a divulgue, principalmente se ele for famoso. Insere-se aí a estapafúrdia ideia de se poder existir gravidez e reencarnação no mundo espiritual. “Kardec sustentou sempre a necessidade de pesquisas para a comprovação de certos dados transmitidos por via mediúnica. Ele não aceitou as informações dadas por Mozart e Bernard Palissy através do médium Camille Flammarion e nem mesmo considerou verídicos os desenhos famosos de Victorien Sardou sobre a possível vida em Júpiter. Acatou-as como manifestações curiosas da mediunidade e sugestões do que poderia haver em mundos superiores à condição da Terra” [3]. Como seria bom se muitos dos expositores espíritas, editores e escritores, não esquecendo os médiuns, copiassem esta postura de Kardec no seu dia a dia. Teríamos um movimento espírita muito mais maduro e coeso.
3)     O terceiro ponto tem a ver com a característica essencialmente progressiva da doutrina. Kardec sempre cuidou de não envolver o Espiritismo em sonhos irrealizáveis e nem por isso ela ficou estática, imóvel. Entretanto, vale a pena deixar claro que mesmo “seguindo [...] o movimento progressivo, cumpre-lhe guardar a maior prudência e livrar-se dos devaneios, das utopias e de sistemas. É preciso andar a tempo, nem muito depressa, nem muito devagar e com conhecimento de causa” [1]. Ou seja, a doutrina vai evoluir, já que isso faz parte da sua natureza, mas, deve ser com os pés no chão e não de forma atabalhoada, sem estudo, sem critérios, sem pesquisa. É por isso que “antes de pensar em ‘novas revelações’, o de que precisamos com urgência é de estudo sistemático e mais aprofundado da obra de Kardec, incluindo não só os tomos da Codificação mas também a Revista Espírita, por ele mesmo indicada como indispensável ao bom conhecimento da doutrina” [4].

         A compreensão exata e profunda destes três pontos nos permite não só compreender melhor o Espiritismo e a sua força, mas, e acima de tudo, nos auxilia no combate às tentativas de deturpação doutrinária que vem surgindo no movimento espírita através de obras suspeitas. É por isto que Kardec afirma que “a Doutrina tendo caminhado por esta via desde a sua origem, seguiu avante constantemente, mas sem precipitação, examinando sempre se é sólido o terreno em que põe o pé, e medindo os passos com respeito à opinião. Tem andado como o navegante: de sonda nas mãos e consultando os ventos” [1]. E é assim que deve andar o espírita antes de resolver publicar qualquer novidade com o rótulo espírita, sempre investigando, pesquisando e consultando os Espíritos através das esquecidas evocações.
         Para finalizar, concordo com o J. Herculano Pires quando afirma que “estudar Kardec, pondo de lado todas as tentativas de desfiguração da mesma que foram semeadas no meio doutrinário por seus pretensos superadores, já é uma contribuição, por modesta que seja, ao reconhecimento da abnegação do mestre. E mais do que isso, o estudo sério, consciencioso, respeitoso dessa obra monumental, é dever de todos os que a seguem como filosofia de vida, mesmo que tropeçando nas pedras do caminho” [3].

Referências:
1.     KARDEC, Allan. Obras Póstumas. SP – LAKE, 2007. Segunda Parte, p. 282 a 284.
2.     PIRES, J. Herculano. A Pedra e o Joio. 3ª Ed, SP – Paideia, 2005, p. 12.
3.     ______. O Mistério do Ser ante a Dor e a Morte. 3ª Ed, SP – Paideia, 1996, p. 41, 42 e 81.
4.     RIZZINI, Jorge. J. Herculano Pires – O Apóstolo de Kardec. 1ª Ed, SP – Paidéia, 2001, p. 246.

sábado, 16 de junho de 2012

Refletindo sobre a importância da leitura dos clássicos


                Ultimamente tenho andado um pouco afastado da atividade de palestrante, de escritor e de blogueiro devido aos meus estudos universitários. Pois, para mim, não é porque estou em uma faculdade particular que ficarei limitado pelas facilidades proporcionadas pelo fato de estudar em uma instituição privada.  Além de ser isto algo que não admito em um aluno, em qualquer nível em que ele esteja não é algo que consigo aceitar em mim mesmo. Não consigo ficar sem pesquisar outras fontes. Isto é algo que aprendi nos estudos espíritas e que muito me facilita o dia a dia de estudante universitário que não deseja ser só mais um na estatística deste nosso Brasil. E por isto, o tempo que já é escasso, fica ainda menor. Daí minha dificuldade em escrever.
            Bom, esta digressão é apenas uma forma de querer informar às pessoas que leem este blog o motivo de estar tão ausente. Pois minha última postagem, com um texto meu data de outubro do ano passado. E não foi por falta de vontade, mas, infelizmente, tudo tem o seu tempo e momento. E por falar em momento, é justamente por causa de um texto que recebi por e-mail que acabei escrevendo estas linhas. Ele me foi enviado esta semana e a assinatura diz ser do Orson Peter Carrara, escritor, palestrante e editor de livros espíritas. Ele me fez parar pra pensar. O texto tem o título sugestivo: Clássicos de Emmanuel.
            O objetivo do texto é fazer uma propaganda de cinco obras psicografadas pelo Chico Xavier e assinadas pelo Espírito Emmanuel. As obras são: Há dois mil anos, Cinquenta anos depois, Ave, Cristo!, Renúncia e Paulo e Estêvão. Bom, com exceção de Ave, Cristo!, todos os outros livros eu li e também recomendo a leitura para quem ainda não se permitiu a aventura de passear por suas páginas. Entretanto, estranhei, de fato, a atitude do amigo Orson de preocupar-se em apenas destacar a importância da leitura destes livros, e deixar de estimular as obras de diversos outros trabalhadores da seara, tanto de encarnados quanto de desencarnados. Pois se ele se assustou ao perceber que os neófitos em Espiritismo não haviam lido ainda estes romances, imagina se ele perguntasse se alguém, entre estes mesmos neófitos, já tinha lido ou ouvido falar de obras como O Céu e o Inferno, A Gênese e as Revistas Espíritas, para citar os livros da codificação? Imagina se ele fosse perguntar se alguém já leu ao menos UMA obra do importantíssimo escriba chamado Hermínio C. Miranda? E do não menos importante J. Herculano Pires? Não ouso citar nem o Gabriel Delanne. Uma importantíssima obra dele foi publicada pela primeira vez em português e, mesmo já tendo a adquirido, ainda não pude estudá-la, somente folhear suas páginas: Pesquisas sobre Mediunidade. Uma obra contendo material riquíssimo para as reflexões, principalmente, dos estudantes e profissionais das áreas de Psicologia e Psiquiatria, mas que não é divulgada.
            Outra importante obra nesta área e que também não é sequer mencionada em lugar algum, muito menos em eventos intitulados de científicos, em termos de Espiritismo são: Condomínio Espiritual e Os Estigmas e os Enigmas, de Hermínio Miranda. Aqui um detalhe importante: me refiro aqui aos eventos e artigos com os quais tive contato. Podem até ter trabalhado estes conceitos, entretanto falo dos que conheço ou li sobre. São obras de um conteúdo riquíssimo e que também deveriam ser constantemente lembradas. Até Leon Denis, o grande sucessor de Kardec em solo francês [claro que sem compará-lo à grandeza intelectual do Delanne, comparação assaz injusta devido à diferença de estilos e de objetivos nos estudos de ambos], não é constantemente lembrado nem em artigos nem em palestras. Diante disto, ficarei apenas lembrando e estimulando a leitura de romances por parte dos neófitos? Não. Da mesma forma que na escola, desde a alfabetização, eu preciso estimular na criança o interesse por compreender a interrelação entre as palavras, as frases, os períodos, os parágrafos e a coerência e coesão do texto como um todo, apreendendo o seu conteúdo e aprendendo a analisá-lo criticamente, como esqueço de fazer o mesmo em Espiritismo? Não digo que esta seja a atitude do colega escritor e palestrante, pois seria de uma leviandade sem tamanho, pelo simples fato de conhecê-lo muito pouco para querer supor algo em suas atitudes ou palavras.
            Mas, o que de fato desejo ressaltar, é que devemos estimular a leitura de TODA a literatura espírita, e não apenas de romances, mesmo que sejam os psicografados por Chico e de autoria de Emmanuel ou André Luiz. Tesouro muito mais valioso eu considero a Codificação, e nós nos esquecemos [intencionalmente?] de estudar e divulgar suas páginas para estudo. Imagina estes livros? Copiando descaradamente um trecho do texto do Orson, e dedicando às obras por mim já citadas [de Kardec, Hermínio, Delanne, Denis e Herculano], concordo quando ele diz que 

“São livros para serem lidos e relidos continuamente, tal a preciosidade de suas páginas. Interessante porque, à medida que amadurecemos na idade, na experiência de vida e mesmo no conhecimento espírita, mais esses livros crescem em importância ao nosso sentimento e ao nosso raciocínio. Portanto, se você não leu, não perca essa oportunidade de muito aprender”.
Realmente, são ESTAS as obras que devem TAMBÉM, e muito mais, serem lidas e relidas, estudas e esmiuçadas continuamente, por sua capacidade nos fazerem crescer não só intelectualmente, mas, também emocionalmente.
            E principalmente para nós, que somos oradores, escritores, comentadores de tudo o que receba o título de espírita é que fica o compromisso de não esquecer que uma formação doutrinária eficaz e coerente começa e continua sempre da Codificação pra frente, tendo os neófitos de aprenderem desde o momento em que adentram a casa espírita a compreender que é pela base que se começa o estudo da doutrina e não por obras que visam elaborar pensamentos tendo esta base por fundamento para reflexão. Não devemos olhar estes romances com os olhos já acostumados com outras perspectivas, mas, aprender e ser verdadeiramente estimulados a ler estes livros da mesma forma que Kardec se predispunha a ler os romances psicógrafos de sua época. E esta maneira de se olhar só pode ser aprendida e ensinada tendo-se a Codificação [com as Revistas Espíritas incluídas] como “a bússola” e não mero detalhe não tão atrativo.
            Que fique claro que não desejamos diminuir o valor que estes livros possam ter, entretanto, não posso querer atribuir a eles um valor que eu, enquanto indivíduo participante do movimento espírita, não posso racionalmente atribuir-lhes porque não possuo recursos nem intelectuais nem doutrinários suficientemente maduros para avaliar e poder examinar criticamente, sem me deixar levar pelas opiniões alheias, justas ou injustas, embasadas ou não. E é isto o que mais me fez refletir. E entenda-se este texto, não como uma crítica ao que o Orson escreveu, mas, e acima de tudo, estas palavras são no sentido de complementar a advertência feita por ele, mas, sem perder a característica de análise crítica.
            Enfim, que possamos estimular a leitura destes romances, mas, que possamos estimular, acima de tudo, uma eficiente e efetiva movimentação em prol de uma correta formação doutrinária do adepto do Espiritismo. Estimulando-o a amadurecer como indivíduo e a ter condições de estudar tanto os belos romances psicografadas, de um modo geral, mesmo sabendo que não são muitos, quanto os de conteúdo mais denso e que exigem um poder de concentração maior por parte do leitor. Até porque, o contrário seria formar uma classe que por si só já é abominável em qualquer lugar, imagine-se no Espiritismo: a de espíritas não praticantes. Aqueles que se contentam somente em ler os romances e a ir ao centro pra tomar passe, beber a água fluidificada e a ouvir a palestra [ou seria o sermão] do dia...