quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

[Vídeo] O Espírito do Espiritismo - O Legado de Kardec

Apresentação de Ricardo Sardinha

Até que ponto a sua "fé raciocinada" é capaz de encarar a razão frente a frente em todas as épocas da humanidade ?

O mínimo que devemos a Allan Kardec é o RESPEITO pelo seu legado, e o que nós, espíritas, estamos fazendo com a semente que ele deixou aos nossos cuidados ?

Essas e outras reflexões fazem parte da palestra O Espírito do Espiritismo - O Legado de Kardec, proferida por Ricardo Sardinha em 02/10/2013 no Centro Espírita Luiz Sergio, do Rio de Janeiro.



[Vídeo] O alerta de Sergio Aleixo


Palestra Realizada no Centro Espírita Friburguense. Fidelidade à codificação de Allan Kardec. 10/11/2013.



segunda-feira, 11 de novembro de 2013

Kardec, a biografia – um livro bom de se ler

Por Dora Incontri



Não direi que o livro Kardec: a biografia é uma grata surpresa, porque quem escreveu a melhor biografia de Chico Xavier, até hoje, prometia escrever também a melhor do mestre de Chico e de milhões de espíritas brasileiros: Allan Kardec.

Por que considero ambas excelentes biografias? Porque são biografias mesmo e não hagiografias. (Para quem não sabe, hagiografia é história de santo, escrita dentro dos cânones da Igreja Católica). Marcel Souto Maior conta a história de um ser humano. De um grande ser humano, mas um ser humano. Um homem de bem, que é o que O Evangelho segundo o Espiritismo propõe como padrão ético. E conta muito bem contado.

Seu estilo é leve, sem cair na banalidade. É espirituoso e às vezes oportunamente irreverente, justo para não assumir um tom laudatório demais, o que acabaria com a sua credibilidade de biógrafo e jornalista investigativo. É um texto saboroso, ágil e que nos dá vontade de ler sem parar.
Souto Maior soube tratar de um assunto delicado, sem ferir nenhum partido; de um assunto sério, sem cair numa doutrinação massacrante e antipática.

Acima de tudo, porém, é fiel aos fatos. E sendo fiel aos fatos, a grandeza do personagem se destaca naturalmente, sem a mínima necessidade de usar uma batelada de elogios melosos.

Aliás, o que se sobressai na biografia escrita por Souto Maior é o Kardec da Revista Espírita. Quem está familiarizado com os 12 volumes da Revista, conhece melhor a personalidade de Kardec, seus embates, seu contexto, seus diálogos e discussões com adversários e aliados, com admiradores e detratores. O autor soube compor não só a partir da Revista, mas de outros documentos, um mosaico bem montado de Kardec, seu trabalho e sua época, que nos permite nos sentirmos lá, na França do século XIX.

Talvez para alguns, que prefeririam uma hagiografia, o fato de Kardec na biografia se irritar, se cansar, se alegrar e usar de uma fina ironia (e usava mesmo com todo o requinte do esprit francês) pode parecer algo humano demais. Mas grandes homens também se irritam e se cansam. Com essa constatação óbvia, em absolutamente nada sai arranhada a personalidade de Kardec e o que ele propôs como Espiritismo.

É claro que não se trata de uma obra filosófica e por isso não discute a fundo alguns pontos que poderiam ser polêmicos e assim não é um livro que sai dos cânones do Espiritismo brasileiro atual. Mas a postura crítica, racional e vigilante que Kardec tinha em relação à mediunidade é muito bem retratada e, mesmo sem querer, serve de alerta para esse movimento, que perde muitas vezes qualquer critério de análise do que supostamente vem do Além.

Quando me refiro aos cânones do Espiritismo brasileiro atual, estou falando de coisas que já estão assentadas entre nós e não me parecem que sejam tão fiéis a Kardec. Por exemplo, o termo “codificador”, que eu mesma usava, criada que fui nesse movimento, mas que tenho criticado ultimamente, pois ele não aparece em nenhuma obra da Kardec. Aparentemente, trata-se de algo criado aqui no Brasil e que ressalta o caráter do mestre como mero organizador de uma revelação pronta ou mero secretário dos Espíritos. Tenho pontuado que, apesar de sua modéstia, o próprio Kardec reconhecia em si mesmo um papel mais ativo e criativo nessa relação com os Espíritos. Diz ele em Obras Póstumas:

“Conduzi-me, pois, com os Espíritos, como houvera feito com os homens. Para mim, eles foram, do menor ao maior, meios de me informar e não reveladores predestinados.”

E na Gênese:

“O homem concorre para a revelação com o seu raciocínio e o seu critério; desde que os Espíritos se limitam a pô-lo no caminho das deduções que ele pode tirar da observação dos fatos. Ora, as manifestações (…) são fatos que o homem estuda para lhes deduzir a lei, auxiliado nesse trabalho por Espíritos de todas as categorias, que, de tal modo, são mais colaboradores seus do que reveladores, no sentido usual do termo.”

Ou seja, como estudei em minha tese de doutorado na USP, que virou depois o livro Pedagogia Espírita, um projeto brasileiro e suas raízes, Kardec criou um novo paradigma para conhecermos o mundo, que inclui uma dimensão espiritual. E esse método de estudar os fenômenos que evidenciam a imortalidade de alma é algo criado por ele e não pelos Espíritos. O livro de Souto Maior não desmente isso, aliás chega perto de demonstrar através de sua narrativa essa proposição que fiz. Mas não é seu objetivo, e nem poderia ser, discutir altas questões epistemológicas.

Um único reparo histórico que tenho a fazer no livro, um descuido talvez: Victor Hugo, quando se interessou pelas mesas girantes e manteve diálogos com os Espíritos, inclusive o de sua filha morta num afogamento, não estava em Paris, como afirma Marcel. O grande escritor francês estava exilado na ilha de Guernsey, por conta de sua oposição ao governo de Napoleão III, que ele chamava de Napoléon, le petit (Napoleão, o pequeno).

Gostei particularmente dos dois últimos capítulos do livro, que estão muito bem articulados. O penúltimo trata do processo dos espíritas (aliás, num erro de digitação ou num engano de tradução aparece como “processo dos espíritos”), em que o juiz Millet destrata Amélie, já idosa, e lança de uma ironia agressiva e injusta contra a personalidade de Kardec. E Souto Maior nada responde. Mas insere no último capítulo a resposta final: um texto do mestre, que considero um dos mais bonitos, porque revela algo de sua intimidade e que só apareceu em Obras Póstumas, em que ele descreve a si mesmo, fazendo um balanço de sua vida de homem de bem. Essa é a melhor resposta para o Juiz furioso e para todos aqueles que ainda denigrem Kardec. Um texto em que o mestre se analisa com toda a simplicidade como um pessoa interessada em fazer o bem e promover a felicidade alheia. E foi isso o que fez com o Espiritismo.

Retirado de: http://doraincontri.com/2013/11/11/kardec-a-biografia-um-livro-bom-de-se-ler/

sábado, 5 de outubro de 2013

AGENDA

Amanhã estarei proferindo palestra no CENTRO ESPÍRITA PAULO DE TARSO, com o tema: AS CAUSAS DA INFELICIDADE HUMANA. Será às 16:30, no bairro de Afogados, rua Alexandre Selva, nº 102, próximo à estação Ipiranga e ao lado do Colégio Ferroviário.

quarta-feira, 10 de julho de 2013

DESENCARNA HERMÍNIO MIRANDA





Afirmou Kardec, em O que é o Espiritismo que “o Espiritismo tem também seus estudiosos” e que “quem quer se esclarecer não colhe informações numa única fonte; somente depois do exame e da comparação se poderá tirar uma conclusão“.
Em obediência a estas afirmações, Hermínio Miranda foi, de fato, um verdadeiro estudioso da Doutrina Espírita e um de seus principais e mais notáveis pensadores do século XX e XXI.
As suas obras são verdadeiras obras-primas do pensamento espiritista e se tornam leitura obrigatória para todo aquele que afirma ser espírita. Elas já eram obrigatórias, contudo, ante o desencarne deste fantástico pensador, é um dever moral dos espíritas dedicarem-lhes atenção e um estudo profundo.
Como afirma o Jáder, logo abaixo em mensagem que ora reproduzimos, a lista de interesses do Hermínio é vasta e todos os seus livros tem muito a acrescentar em conhecimento e cultura aos Espíritas.
Livros como A Memória e o Tempo (que já foi objeto de resenha neste blog), Alquimia da Mente, Diversidade dos Carismas, Condomínio Espiritual, O Estigma e os Enigmas, Arquivos Psíquicos do Egito, Swedenborg, uma análise crítica (tão ao gosto do estilo de análise deste blog), O Evangelho Gnóstico de Tomé, Diálogo com as Sombras, As Sete Vidas de Fénelon, Cristianismo: a mensagem esquecida, e Autismo, uma leitura espiritual são alguns dos cerca de 45 livros publicados.
                É uma perda enorme a sua partida, mas, com bem sabemos, a hora de partir é sempre exata. Não há o que lamentar no desencarne de tão valoroso irmão, a não ser um sentimento de que o trabalho de Hermínio deve ser objeto de um estudo atento e profundo. Com certeza nossos irmãos, do lado de lá, estavam ansiosos com o regresso dele. Vai, Hermínio, que Deus te permita outras oportunidades para voltar entre nós e nos iluminar com este vasto conhecimento que tu possuis.
                O desejo que fica agora é o de ver a sua vida ser contada em um livro, como foi feito com tantos, como Chico Xavier, J. Herculano Pires, o próprio Kardec, entre tantos outros. Que a espiritualidade encontre algum irmão com inspiração e talento suficientes para contar a vida deste fantástico pensador em um livro. Já que não foi feito enquanto ele ainda estava encarnado, que seja agora que está na companhia dos bons espíritos!
                Siga em paz querido irmão, escriba e professor. Enquanto teu espírito retorna á pátria, teu legado segue conosco nos iluminando!


DESENCARNA HERMÍNIO MIRANDA 





Hermínio (05/01/1920 - 08/07/2013)

"O pássaro agora voa liberto. Nós, que não mais podemos vê-lo, já sentimos saudades do seu canto."
Jáder Sampaio

Na década de 80 a União Espírita Mineira, em associação com a Aliança Municipal Espírita de Belo Horizonte, trouxe três estudiosos do espiritismo para um seminário sobre mediunidade. Jorge Andréa dos Santos, Suely C. Schubert e Hermínio C. Miranda.

Hermínio estava incomodado com o púlpito. Não era expositor, dizia, apenas escritor. Assentado, com um maço de páginas nas mãos, começou a ler seu discurso. E que discurso! Superado o impacto inicial de ouvir uma leitura, as palavras dele criavam vida após sair do papel. Eram tantas informações e com tanta elegância, que eu me dividia entre as anotações furiosas que fazia e a atenção necessária para acompanhar cada nuance, cada expressão, cada frase. Se ele temia o público, arrisco minha opinião póstuma: ele fez bonito!

Hermínio era reservado, tinha uma personalidade anglo-saxônica. A esposa completava-lhe o que lhe faltava. Recordo-me dela expansiva, simpática, calorosa. Os dois formavam um belo casal, cada um admirado por suas qualidades díspares.

Hermínio já era nonagenário, com extensa contribuição ao espiritismo e ao movimento espírita. Durante anos manteve uma coluna no Reformador, chamada "Lendo e Comentando". Ela trouxe aos trópicos de forma sistemática o que se pesquisava sobre comunicação dos espíritos e reencarnação nas terras anglófonas. Creio que das páginas do Reformador saiu o material para a composição dos livros "Sobrevivência e Comunicabilidade dos Espíritos" e "Reencarnação e Imortalidade".

Um de seus trabalhos sistemáticos foi com o atendimento aos espíritos. Apesar da personalidade reservada, ele mostrava um senso de percepção incomum e uma capacidade de diálogo transformadora. Como gravasse seus atendimentos, pode nos oferecer uma quadrilogia de livros intitulada "Histórias que os espíritos contaram", hoje publicada pela editora Correio Fraterno. A teoria do seu trabalho diferenciado, no qual incluiu técnicas dos magnetizadores do século XIX, encontra-se em dois livros: Diálogo com as sombras (FEB) e Diversidade dos Carismas (Lachâtre).

As incursões pelo magnetismo não se restringiram ao mundo das sombras, e ele fez sessões de regressão de memória com algumas pessoas. Luciano dos Anjos foi um sujet pleno de recordações da França revolucionária, que ele registrou no livro "Eu sou Camille Desmoulins", publicado em 1989, no bicentenário da revolução francesa, com uma explicação do autor que assegurava não ter podido publicar antes, e não estar se aproveitando das comemorações. Para quem agora escreve, seria uma simetria histórica.

Simetria histórica é um dos conceitos que ele desenvolveu e que foi empregado em muitos dos seus livros. As Marcas do Cristo (FEB), é um exemplo deste tipo de trabalho, no qual Hermínio compara a personalidade e história de Paulo de Tarso com a de Martinho Lutero. Este conceito seria empregado pela Dra. Nadia Luz, em sua tese de doutoramento em história, publicada na coleção Espiritismo na Universidade.

As biografias foram também uma de suas paixões. Ele publicou diversas, recuperando para o movimento espírita personalidades que passariam despercebidas nos dias de hoje, apesar de sua relevância. Guerrilheiros da Intolerância (Lachâtre), Hahnnemann, apóstolo da medicina espiritual (CELD), O pequeno laboratório de Deus (Lachâtre) e Swedenborg, uma análise crítica, são alguns dos exemplos.

Um de seus interesses era com a psicologia, na sua interseção com os fenômenos espirituais. Um de seus livros neste campo tornou-se best seller: Nossos filhos são espíritos (Lachâtre). Autismo, uma leitura espiritual (Lachâtre) e Condomínio Espiritual (Lachâtre) são alguns dos trabalhos com este perfil.

Creio que um dos temas que mais o intrigava era a transformação do cristianismo. Ele contribuiu com Os cátaros e a heresia católica (Lachâtre), Cristianismo, a mensagem esquecida (Lachâtre), Candeias da noite escura (FEB) e O evangelho gnóstico de Tomé (Lachâtre).

Das traduções, sua obra prima, é A história triste, de Patience Worth, que desenterrou do esquecimento juntamente com Memória Cósmica, cuja tradução está perdida em seu hard-disk.

Os livros do egito, que povoa suas recordações de além cérebro, o Edwin Drood, o livro de Dickens completado pela mediunidade e igualmente desenterrado por Hermínio, O processo dos espíritas, que reconta a injusta perseguição da sociedade francesa a um dos continuadores de Kardec, Leymarie, e muitos e muitos livros que não vou ficar citando, trazem seu nome e são frutos das suas horas de trabalho sério.

Voa, meu amigo, voa. Vai conhecer novos mundos, recordar mais vivências, reviver os tempos do Cristo. Voa bem alto, para que um dia possa retornar falando das luzes e do futuro.

Fonte: http://espiritismocomentado.blogspot.com.br/

domingo, 30 de junho de 2013

Santo Agostinho e o Espiritismo por Régis de Morais



Um pouco de filosofia e Espiritismo pela voz do professor Régis de Morais, que estará no SIMESPE deste ano. Vale a pena conferir as duas partes, onde ele discorre sobre Santo Agostinho e o Espiritismo.

segunda-feira, 3 de junho de 2013

IMPASSE DOUTRINÁRIO?



“As opiniões são contraditórias, mas isso não nos deve impressionar, pois opiniões não passam de palpites, de pontos de vista individuais, sujeitos às idiossincrasias de cada um. E Pitágoras, o criador do termo Filosofia, já afirmava que a Terra é a morada da opinião”. (J. Herculano Pires [1])
               
                Consoante o que afirmou o filósofo Pitágoras, podemos afirmar, sem medo, que também a erraticidade é a morada da opinião. Da mesma forma, não devemos nos assustar com a disparidade de opiniões encontradas, pois sabemos que os Espíritos não são divindades nem se tornam perfeitos pelo fato de abandonarem o veículo corporal. A vantagem que hipoteticamente eles teriam, por estarem livres do envoltório corporal, está em razão da sua posição na escala espírita, ou, como se diz popularmente: da sua evolução espiritual.
                É por isto que, não cessamos de repetir sobre a importância do cuidado na análise das informações vindas dos Espíritos independente do nome que assine. De outra forma, também cabe ressaltar já no início deste texto que não estamos iniciando nenhuma cruzada inquisitorial contra o médium Carlos Baccelli e o Espírito que se denomina Inácio Ferreira. Estamos, antes de qualquer coisa, realizando a tão propalada análise crítica preconizada pelo codificador e enfatizada pelos Espíritos que o orientaram no trabalho de construção do edifício doutrinário espírita. O fato de ser esta a quarta mensagem da autoria do Inácio a ser analisada se deve ao fato de o seu conteúdo nos permitir um desenvolvimento oportuno da crítica literária espírita iniciada por Kardec e que é dever de todos os Espíritas. Também vale mencionar que, de fato, o que se analisa aqui é a opinião do Espírito Inácio e sobre a qual o médium deve permanecer indiferente, dado que a sua função é ser um mediador entre o autor espiritual e nós encarnados, da mesma forma que o computador serve de mediador entre aquele que escreve e aquele que lê, por exemplo [2].
                Nesta mensagem, intitulada de Impasse Doutrinário [3], o referido Espírito afirma que “na atualidade, o Espiritismo, através de seu Movimento, está vivenciando um impasse doutrinário sem precedentes na sua recente história”. Impasse este resultante, não de um questionamento dos seus princípios, mas, na opinião de Ferreira, dos “perigosos rumos que vêm, de algum tempo a esta parte, sendo impressos ao Movimento, por companheiros que, no que pese a sua boa intenção, agem equivocadamente”.
                Estes “perigosos rumos” seriam dados por seres que, deslumbrados pelos poderes temporais, estariam levando o Espiritismo para o caminho do elitismo. Esta acusação, infundada, não é nova e continuará a ser usada toda a vez que houver um conflito de ideias. E é bastante usada quando as ideias de determinados Espíritos são avaliadas criticamente e questionadas em sua validade e importância por apresentarem, muitas, equívocos insanáveis ou por ser, de forma clara, obra de espíritos mistificadores. Qualquer um pode ser acusado de elitista. Basta, para isso, questionar algum destes Espíritos tendo por base dados da Codificação e realizar um exame criterioso em busca de coerência e lógica na opinião em análise. Basta também divulgar a importância de um estudo metódico, profundo e perseverante dos cerca de dezoito livros publicados por Allan Kardec e as valiosas obras complementares de autores como Léon Denis, Gabriel Delanne, Camille Flammarion, Ernesto Bozzano, Alexander Aksakof, entre os europeus e J. Herculano Pires, Deolindo Amorim, Carlos Imbassahy, Hermínio C. Miranda, entre os escritores e pesquisadores brasileiros.
                E evocando os feitos de Francisco de Assis, numa citação (ao que parece) textual da obra de Emmanuel, Inácio questiona se da mesma forma que a doutrina cristã foi deturpada por aqueles deslumbrados com a visão dos poderes temporais à época do “iluminado da Úmbria”, não estaria o Espiritismo sendo deturpado na atualidade por indivíduos “deslumbrados pelos poderes temporais” e se hierarquizando a semelhança do cristianismo quando começou a se afastar da essência do evangelho.
                Até aqui, a não ser pela palavra “hierarquizando”, que parece ser uma clara referência aos trabalhos desenvolvidos pela Federação Espírita Brasileira, não conseguimos divisar claramente nem quem são os alvos desta crítica feita pelo Inácio Ferreira, nem quais são estes malfadados “poderes temporais”, embora todos possam intuí-los. Provavelmente os deslumbrados são pessoas ligadas aos trabalhos federativos e aqueles outros que realizam trabalhos de análise crítica das obras dos Espíritos.
                Contudo, mais à frente alguns de seus alvos vão sendo delineados. Quando ele questiona se “não estaríamos, a pretexto de pureza doutrinária, novamente incrementando a censura, qual o equívoco em que a Igreja Católica ocorreu, quando, então, chegou a instaurar o Tribunal do Santo Ofício, condenando os que não se pautavam pela sua cartilha ideológica às fogueiras da Inquisição?!”, ele deixa claro a quem se destinam suas acusações. Aos Espíritas que, como José Herculano Pires, se propõem estudar de forma séria e continuada o Espiritismo e que ousam questionar as informações vindas do mundo espiritual, justamente aquilo que a maioria do movimento espírita brasileiro nunca foi ensinada a fazer. Ou seria que todo aquele que resolve fazer crítica literária deve ser comparado com um inquisidor do Tribunal do Santo Ofício. A atitude de publicar obras como o fez Herculano, questionando abertamente os ensinos de Espíritos como Ramatís e acusar André Luiz de ser um neófito em Espiritismo [4], deve ser equiparada á censura realizada pela Igreja Católica que inseria os livros proibidos no seu Índex Prohibitorum? Com pretexto de impedir a censura não estaria ele censurando a saudável e imprescindível crítica literária espírita, já quase inexistente em nosso movimento espírita nacional? Não seria este um exagero desnecessário? Ou seria esta justamente a atitude de desviar o foco das necessárias análises das informações dos Espíritos sob o falso pretexto de que quem assim se comporta estaria deixando de ser caridoso e de se preocupar com a famosíssima ‘reforma íntima’? Estes são questionamentos que considero pertinentes e que são válidos ante a retórica vazia do Inácio. Vazia porque generaliza uma acusação que seria correta se direcionada para alguém, mas, posta da forma em que foi colocada acusa todos aqueles que defendem a pureza doutrinária de serem pessoas elitistas, apegadas aos “deslumbrantes poderes temporais” e de não serem caridosos nem preocupados com a reforma íntima. E o pior, quer passar a impressão de que pureza doutrinária seria o mesmo que censura o que é um absurdo.
                Equívoco também é a atitude de chamar estes mesmos críticos literários de pessoas insensíveis e de afirmar que querem transformar o Espiritismo em Teologia. Eu, particularmente, não entendi esta parte. O queria dizer com isto o Inácio? Teologia, em sua etimologia, significa “a ciência que estuda a divindade” e, por definição, o Espiritismo possui em seu corpo doutrinário uma ‘teologia’ própria, mais especialmente em O Livro dos Espíritos (capítulo 1) e A Gênese (capítulo 2). A não ser que ele queira se referir a alguma questão de ordem prática, esta afirmação não se sustenta no plano teórico. Por si só, um estudo teológico sério e profundo tende mais a nos aproximar do divino, e em consequência alterar para melhor nosso caráter, do que o contrário. Como o leitor deve estar percebendo, a mensagem do Inácio Ferreira possui um caráter desnecessariamente alarmista e com pouca coerência, não apresentando de forma clara o que deseja expressar. Ou, talvez, seja justamente este o objetivo dele...
Entretanto, ainda existem dois parágrafos que pedem uma análise, mesmo que sucinta. O penúltimo diz assim: “Concitamos, pois, aos sinceros partidários da Doutrina a que não tornem a cometer o erro da omissão, quando, nas lides do Cristianismo, optaram pelo silêncio comprometedor, cujas consequências espirituais se fizeram sentir para a Humanidade no curso da História”. Aqui o primeiro erro é supor que os mesmos partidários da Doutrina Espírita na atualidade são espíritos reencarnados que viveram e aderiram aos ideais revolucionários do então nascente Cristianismo. É o mesmo erro cometido por todo neófito em Espiritismo que supõe ter sido alguma figura famosa ou importante no passado, ou que, também, poderia ter sido algum mártir devorado por leões no coliseu romano. Portanto, quem errar hoje, não necessariamente será por ter sido omisso aos tempos do cristianismo nascente. Ser omisso hoje é dizer-se espírita sem saber o que, de fato, significa ser espírita! Ser omisso hoje é conhecer os princípios filosóficos espíritas e não aplica-los à análise das informações dos Espíritos. Ser omisso hoje, é permitir a difusão de equívocos com relação à interpretação e prática espírita e ficar calado porque o difusor é um palestrante ou médium famoso e poderia ser acusado de não ser caridoso. A lista poderia continuar, mas, imaginamos que os exemplos são suficientes.
O último parágrafo apresenta um argumento coerente e que tem a finalidade de dar, normalmente, maior autoridade ao que se fala. É o tipo de argumento que ninguém contesta, justamente por ser óbvio demais. Ele diz assim: “Em defesa da Verdade, não há necessidade de agressividade na opinião e, muito menos, na conduta, mas imprescindível se torna a postura coerente com os Princípios abraçados, no testemunho solitário da fé, porque, conforme nos disse o Cristo, “nem todos os que dizem: Senhor! Senhor! Entrarão no reino dos céus; apenas entrará aquele que faz a vontade de meu Pai, que está nos céus”!”...               
O argumento é coerente e possui validade pelo simples fato de que isso realmente acontece no movimento espírita. Muitos indivíduos, a pretexto de ‘defesa de opinião’, agem de forma agressiva, impositiva, violenta. Não concorda em ser contestado e, muito menos, em perder o status (ilusório) que supunha possuir. Experiências deste tipo são comuns em centros onde o diálogo e o estudo é escasso, onde existe a figura, mesmo que fictícia, de alguém que se ache ‘dono do centro’, seja pelo seu poder econômico, seja por uma suposta autoridade advinda ou da sua mediunidade ou do tempo que possui de frequência na casa. Também é muito comum em discussões na internet ou em redes sociais, onde as pessoas se escondem atrás de máscaras e perfis fakes para poderem expor o que são de verdade, criando intrigas, difamando, debatendo e ridicularizando quem pensa diferente. Existe uma imensa maioria que age corretamente, tanto doutrinariamente quanto moralmente, mas, infelizmente, os maus elementos existem em todos os lugares. Cabe salientar, ainda, que este tipo de atitude não é especial dos que buscam defender a pureza doutrinária, antes, é algo natural de espíritos ainda imaturos e que não conhecem o poder do diálogo e da autoridade moral. Recentemente, ficamos sabendo de um caso de uma leitora que escreveu para uma editora questionando a validade da publicação de uma determinada obra e recebeu como resposta sarcasmos e ironias, justamente daqueles que defendem as ideias deste Espírito que está sendo analisado.
O que podemos concluir desta pequena análise feita sobre a mensagem ‘Impasse Doutrinário’ é que o risco de elitização e hierarquização pelo qual supostamente estaria passando o Espiritismo não é culpa dos hipotéticos defensores da pureza doutrinária empolgados pela “visão dos poderes temporais”, mas, pela omissão de todo e qualquer indivíduo que se permite envolver nos problemas naturais do convívio humano e do seu processo de desenvolvimento tanto social, quanto técnico, biológico e espiritual. Omissão é uma atitude de indiferença, de fuga da responsabilidade que lhe cabe como indivíduo interexistencial e não o contrário. Quando um indivíduo se posiciona ele não está sendo omisso, em hipótese alguma. Ele pode se equivocar, mas, nunca estará sendo omisso. Compreendendo, também, impasse como uma “situação que não oferece saída favorável” [5], o que se pode observar é que o verdadeiro impasse está na situação criada (e defendida, ao que parece, pelo Inácio) em que nenhum espírito pode ser alvo de análises críticas sem que o autor destas análises seja logo taxado de ‘pessoa insensível’ e ‘deslumbrada com a visão dos poderes temporais’, ou ainda elitista. Em nosso país, criou-se uma cultura de ‘santidade’ aos médiuns e aos Espíritos que não condiz com os mais básicos princípios doutrinários da Doutrina. Pior ainda, qualquer esforço de análise crítica corre o risco de ser taxado como falta de caridade para com os autores espirituais e os seus médiuns, como se a postura do Espírita tivesse de ser passiva, acrítica, acomodada ao que os outros dizem. É justamente esta cultura que permite que um Espírito faça comparações como as que o Inácio fez, ao tentar convencer o leitor de que a atitude crítica gerada pela compreensão e defesa da pureza doutrinária, não sendo nada mais que uma postura gerada pela compreensão dos postulados espíritas, por exemplo, seria a mesma que motiva as atitudes de censura, como as da Inquisição ao criar o Tribunal do Santo Ofício e o Índex Prohibituron. E para finalizar, os que entrarão no “reino dos céus” não são os que fingem santidade, mas, os que vivem autenticamente os postulados da Doutrina dos Espíritos de forma integral, defendendo ou não a pureza doutrinária!


Referências
[1] PIRES, J. Herculano. Introdução a Filosofia Espírita. 1ª ed. Ed. Paidéia, 1983, p.
[2] Para maiores informações vide o artigo Os Médiuns são os Intérpretes dos Espíritos, partes I e II.
[4] Pires, J. Herculano. Vampirismo. 9ª ed. 2003, Ed. Paidéia, p. 21: “O Espiritismo estaria sujeito á mais completa deformação, se os espíritas se entregassem ao delírio dos caçadores de novidades. André Luiz manifesta-se como um neófito empolgado pela doutrina, empregando às vezes termos que destoam da terminologia doutrinária e conceitos que nem sempre se ajustam aos princípios espíritas”.
[5] Definição de impasse retirada do site: http://www.dicio.com.br/impasse/